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Vila Autódromo Mostra ao Rio 2016 o Verdadeiro Significado do Esporte
No dia 26 de dezembro, a Vila Autódromo sediou a Taça Libertadores da Vila Autódromo, um torneio de futebol para celebrar a contínua existência e resistência da comunidade, apesar da recente intensificação da pressão feita pela Prefeitura. O evento dá continuidade para a campanha #OcupaVilaAutódromo que conta com uma série de eventos, incluindo um recente festival cultural, para levar pessoas à comunidade, em apoio aos moradores. Através dessa campanha, moradores buscam mostrar que a comunidade não está abandonada e dar visibilidade à luta contra as remoções, garantindo que a “Vila Autódromo vive, existe e resiste.”
Quatro times, cada um com cinco jogadores, participaram da competição: Pelada da Esquerda FC, Radical Contral FC, Remo(vidas) e Vila Autódromo. 35 pessoas assistiram o evento. A atmosfera era amigável e relaxada. Após uma rodada entre todos, o Pelada da Esquerda FC venceu o Radical Contra FC na final, recebendo o troféu. O torneio foi seguido de um churrasco preparado pela comunidade, encerrando um evento agradável com ainda mais oportunidade de relaxar e socializar.
Antes de entregar o troféu, Luiz Claudio Silva, morador da comunidade há 23 anos e um dos organizadores do evento, falou sobre a contínua luta da comunidade para sobreviver diante das remoções e ameaças da Prefeitura. Segundo ele, eventos como este são importantes não só para mostrar ao mundo que a comunidade é vibrante, mas também pois “essa luta nos dá coragem, porque sentimos que não estamos aqui sozinhos e não estamos abandonados.” Esse sentimento foi refletido pelos jogadores que vieram–Miguel, do Remo(vidas) afirmou que o time veio para “jogar futebol e celebrar esse ano de resistência” da comunidade. Lucas, do Radical Contra FC elogiou a atmosfera do evento, dizendo que “somos muito bem recebidos nesses lugares.”
O evento é uma reminiscência das crescentes ideias globais ao redor do futebol para o desenvolvimento e do punk football, ambos focados muito mais na participação, inclusão e divertimento do que na competição, exclusividade ou vitória. Times como o Pelada da Esquerda FC e o Radical Contra FC são organizados para essa forma de futebol; Lucas explicou: “o time foi criado com a intenção de ser politicamente de esquerda.” Essa é uma forma diferente de fazer esporte, desafiando os jogos altamente profissionais dos Jogos Olímpicos que acontecerão no Rio em agosto. Ao invés de focar nas margens de lucro e nos altos salários dos profissionais do esporte, o foco aqui é o divertimento e a camaradagem dentro e entre times.
Com estudos mostrando repetidamente que sediar mega eventos esportivos tem pouco ou nenhum impacto nas tendências de longo prazo de atividades físicas na população, o Comitê Internacional Olímpico deveria refocar em participação e divertimento, ao invés de permitir que os “Jogos de Exclusão” sejam usados como desculpa para forçar a remoção de comunidades como a Vila Autódromo.
Luiz já está animado com a organização de um segundo torneio na comunidade, pois pessoas disseram ter gostado dos jogos, das comidas, bebidas e toda a socialização. O campo de futebol continua sendo em uma parte da comunidade a qual o prefeito afirmou repetidas vezes que não seria removida para o Parque Olímpico, que está sendo construído ao lado da comunidade. No entanto, ameaças de autoridades da prefeitura continuam pressionando os moradores que ainda estão na Vila Autódromo a sair. Se o prefeito irá cumprir suas promessas de permanência da comunidade ou não, ainda será visto.
A ceremônia de troféu e torneio de futebol:Liderança do Quilombo das Guerreiras Compartilha Memórias de Ocupação, Luta e Resistência
A ocupação Quilombo das Guerreiras é um símbolo de resistência e organização comunitária. De 2006 a 2013 mais de cem famílias ocuparam e construíram uma comunidade em um armazém abandonado na região do Porto do Rio. Além de fornecer moradia, a ocupação havia desenvolvido uma forma de vida coletiva realizando atividades, incluindo aulas de alfabetização, jardinagem urbana agroecológica, exibição de filmes e passeios.
Os ocupantes se uniram a vários movimentos sociais para lutar pelo direito à moradia e resistir à remoção, montando uma campanha de resistência exemplar. No entanto, houve muita pressão para expulsar os ocupantes ali instalados já que a região recebeu investimentos de alta visibilidade como parte do programa de revitalização da região portuária, o Porto Maravilha. O edifício do Quilombo das Guerreiras foi então expropriado pelo governo federal no final de 2013.
O RioOnWatch se encontrou com Maria Ivanilde Moraes, uma das líderanças da ocupação, para ouvir sua história de resistência e luta como parte de uma das ocupações urbanas mais bem sucedidas e importantes do Rio de Janeiro.
Originária do Maranhão, Maria Ivanilde Moraes, conhecida como ‘Nilde,’ conta que ela vivia em uma boa casa no Rio Grande do Sul, com seu marido e três filhos: “Era casada, tinha emprego, e o meu marido trabalhava. Depois eu me separei e fui embora com os meus três filhos: de 14, 6 e 3 anos de idade.”
“Eu vim para o Rio com as crianças e sem nada e achei um lugar na favela. Muitos tiros, uma casa que não tinha nada, não tinha sofá, não tinha mesa, não tinha cama, nada. Só as paredes e um teto. Entrei lá dentro com a cara e a coragem e a ajuda da minha mãe. Eu botei os meninos em uma escola integral e consegui um trabalho de doméstica. O trabalho que apareceu, eu peguei, três vezes por semana, para pagar aluguel e levar pão e leite para casa. E eles comiam na escola porque passavam o dia inteiro lá. Fazer parte de uma ocupação urbana era a última coisa que passava pela minha cabeça até que de repente, eu perdi meu emprego. No entanto tornar parte desse grupo foi realmente a melhor coisa que poderia ter acontecido naquela situação.”
Antes de habitar o antigo armazém, um grupo de pessoas com históricos diferentes–incluindo ex-moradores de outras ocupações no Centro do Rio como Chiquinha Gonzaga e Zumbi dos Palmares—começou a se organizar através de encontros regulares.
“Eu e a minha mãe começamos a frequentar as reuniões com eles pequenininhos, todos domingos íamos para lá com eles. E depois de cinco meses de reuniões, aconteceu a primeira ocupação com as Guerreiras. Foi lá na Cinelândia, onde hoje tem uma outra ocupação, o Manoel Congo. Era um grupo organizado mas que não tinha um nome ainda. Depois de 24 horas, a polícia chegou lá e desocupou o prédio. Depois de mais seis meses de organização, reunião, e um mapeamento dos edifícios desocupados, nós fomos para um outro edifício em Vila Isabel e também com 24 horas houve desocupação. Lá em Vila Isabel foi criado o nome do Quilombo das Guerreiras, referindo-se aos membros do sexo feminino do grupo, as guerreiras.”
Nas primeiras horas da manhã de 9 de outubro de 2006, cerca de 120 famílias ocuparam um armazém que tinha sido abandonado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro por cerca de 20 anos. A ocupação foi bem-sucedida, com as famílias estabelecendo sua comunidade e lares ao longo dos anos seguintes.
Nilde disse: “A gente conseguiu ficar lá durante oito anos. Meus filhos cresceram lá. Foi um prédio incrível, com espaços grandes e marmorizados. A gente fez muito trabalho. A gente ocupou um prédio onde não tinha luz, não tinha água… A lei diz que todo imóvel no Brasil tem que ter luz… E isso nunca foi feito.”
Nilde descreve como o Quilombo das Guerreiras era mais do que apenas um projeto habitacional: “Foi um sonho que se tornou realidade. Fizemos o nosso próprio teatro, uma sala de aula onde crianças e adultos foram ensinados a ler e escrever, oficinas de produção de chinelos e camisetas.” Tarefas comuns foram organizadas e distribuídas entre as comissões, com cada grupo responsável por uma tarefa diferente, como serviços de água e eletricidade, trabalhos na cozinha, limpeza e finanças, entre outros.
Além de fornecer um lar e comunidade para os moradores, a ocupação foi positiva para a amplamente abandonada região do Porto. De acordo com Nilde, “as taxas de homicídio e assalto na região caíram em 80%,” porque mais pessoas estavam caminhando nas ruas do bairro.
Houve muitos momentos de tensão e repressão ao longo dos oito anos, desde cortes de energia e distribuição irregular de alimentos e água até a intimidação por parte dos seguranças do porto e a presença constante de oficiais de justiça entregando liminares de reintegração de posse do armazém para a Companhia Docas. Mas os moradores do armazém não se sentiam sozinhos em sua luta para permanecer, diz Nilde: “Todos se uniram para defender o direito à moradia. [Tivemos] grande apoio dos movimentos sociais, incluindo a Central de Movimentos Populares (CMP) e da União Nacional por Moradia Popular (UMP), bem como jovens professores e estudantes. Eles nos apoiaram desde o início. Um dia, eles bloquearam a porta para impedir a polícia de entrar, com todos os moradores dentro.”
No entanto a pressão começou a aumentar quando a prefeitura intensificou os esforços para remover as ocupações da região. Nilde explica: “Em 2012, a prefeitura, com o projeto de revitalização Porto Maravilha em mente, expulsou duas ocupações desorganizadas na área do Porto. Eles foram jogados fora como animais e colocados num armazém vazio atrás do edifício ocupado pelo Quilombo das Guerreiras. Sem água, sem luz, sem casa, sem nada. Esse foi o momento em que as coisas pioraram. Prostituição, tráfico, assassinato… um desastre. E as ameaças. Era muito perigoso. A prefeitura começou a invadir o prédio, fazendo buracos nas paredes, forçando-nos a sair… Eu fui uma das primeiras a sair. Peguei as crianças e aluguei uma casa em uma comunidade em São Cristovão.”
Após uma longa luta, em setembro de 2013, o governo federal assinou um decreto desapropriando o edifício ocupado pelo grupo ‘Guerreiras,’ juntamente com outras treze propriedades na área, facilitando o andamento dos projetos de desenvolvimento do Porto Maravilha, incluindo a Trump Towers Rio de Janeiro a ser desenvolvido onde o Quilombo das Guerreiras estava localizado.
Hoje, Nilde aluga um apartamento em Santo Cristo, na região do Porto, com seus três filhos, e se esforça para poder pagá-lo. Muitos daqueles que foram forçados a sair do Quilombo das Guerreiras se mudaram para outro local da mesma rua, o Quilombo da Gamboa, onde o contrato para iniciar a construção de 116 unidades habitacionais foi assinado em julho. Como uma das muitas lideranças que surgiram nos oito anos de ocupação do Quilombo das Guerreiras, Nilde atua como representante dos futuros moradores da cooperativa de habitação do Quilombo da Gamboa em eventos como o da assinatura do contrato. A construção do conjunto habitacional do Quilombo da Gamboa está agora para começar.
Melhores e Piores Reportagens Internacionais sobre as Favelas do Rio em 2015
Essa é a mais recente contribuição para nossa série sobre As Melhores e Piores Reportagens Internacionais sobre as Favelas do Rio, parte do atual debate do RioOnWatch sobre a narrativa e os retratos midiáticos acerca das favelas cariocas.
Chegamos ao fim de 2015 e agora faltam menos de oito meses para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Com a crescente atenção da mídia global sobre os Jogos têm vindo também raras e perspicazes reportagens aprofundando assuntos-chave como raça, violência do Estado, as reais motivações por trás das remoções, e desafios ao estigma das favelas, assim como empolgantes plataformas para moradores de favelas falarem diretamente a leitores internacionais. Esse alcance amplificado se constrói sobre uma tendência que documentamos na primeira fase da nossa pesquisa longitudinal sobre a cobertura da grande imprensa internacional sobre as favelas do Rio de 2009 a 2014: em seis dos maiores meios de comunicação da língua inglesa, moradores de favelas foram citados acima de seis vezes a mais em 2013-2014, o ano anterior à Copa do Mundo de 2014, que em 2009-2010, logo após o Rio ter sido eleito para as Olimpíadas.
Entretanto, perigosos estereótipos, linguagem preguiçosa, e a errônea tradução de favelas como “slums” e “shantytowns” ainda estiveram presentes em 2015. Nossa pesquisa descobriu que, embora o uso da palavra “slum” esteja declinando em favor de descrições mais precisas e ponderadas, em 2014 ela permaneceu a tradução mais frequentemente aplicada às favelas. O uso de termos impregnados com estigma e outros estereótipos pela mídia, favorece políticas governamentais que prejudicam moradores de favelas, criando uma imagem de que qualquer política é uma boa política, e de que nestas comunidades não existem qualidades a serem protegidas.
Aqui, analisamos alguns dos mais contraproducentes artigos que vimos em 2015 e celebramos alguns dos melhores.
Os pioresUm artigo da ABC Australia de novembro ataca a produtiva questão de se visitar uma favela como um estrangeiro é um “tour esclarecedor ou pornografia da pobreza”, mas o artigo começa com uma cena contra producente: “No meio de um dos mais pobres subúrbios do Rio um homem negro alto se aproxima de mim e pega minha mão. Ele não está prestes a me roubar. Ou a me vender drogas… Ele apenas quer me mostrar como se dança.” Independente da intenção da autora aqui, brincar com velhos, mas ainda impregnados, estereótipos os perpetua ainda mais, especialmente quando falta ao texto qualquer criticismo a estereótipos. Infelizmente, no Rio estereótipos ligando homens negros a drogas e crimes muito frequentemente são base para justificar o assassinato de inocentes pela polícia. Além disso, a linguagem da autora para descrever favelas carece de refinamento. Ela se refere a elas como “viveiros de traficantes de drogas e extrema pobreza”, uma afirmação enviesada sobre comunidades onde menos de 1% dos residentes estão envolvidos no tráfico. Crescentemente conectados à tecnologia, entorno de 65% dos moradores de favela são parte da classe média brasileira em expansão.
Em janeiro de 2015 um artigo do Daily Mail sugeriu que rumores infundados de que David Beckham havia comprado uma casa no Vidigal em 2014 tinham sido responsáveis pela gentrificação no bairro. Essa falsa narrativa obscurece a tendência crescente de aumento do interesse em propriedades no Vidigal desde que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi instalada, em janeiro de 2012, bem como a considerável organização da comunidade no início de 2014, para debater seus impactos. Embora o artigo apresente uma série de citações de moradores detalhando os difíceis efeitos do aumento dos aluguéis, põe em dúvida a credibilidade dos moradores, contrastando a “verdade” (que Beckham não comprou a propriedade lá) e “a versão contada por quase todos no Vidigal.” Esta depauperação é particularmente problemática ao lado de citações de um residente francês do Vidigal, que diz: “As pessoas são muito ignorantes aqui… As pessoas são muito preguiçosas e ninguém é profissional. É como viver na África. Eu digo às pessoas, vocês sabem por que vocês são terceiro mundo, porque vocês não sabem como trabalhar.” O artigo não oferece nenhuma crítica ou contra-citações a estes comentários racistas fortemente estigmatizantes.
Uma resenha literária do Evening Standard pegou o complexo livro de Misha Glenny sobre o antigo chefe do tráfico da Rocinha, “Nem”, e conseguiu dizimar as nuances da história através da linguagem banalizante. O autor descreve favelas como “depósitos de barracos arruinados pelas drogas.” O fato de ele também se referir a moradores de favela como “sertanejos” sugere uma compreensão limitada da geografia física e socioeconômica do Rio. Nem e outros chefes do tráfico são rotulados “napoleões dos barracos”, que parece uma fraca, inexplicável referência a Napoleão, bem como um retrato impreciso das moradias, em sua maioria de tijolo e cimento, da Rocinha e outras favelas. O artigo sugere que as favelas são estagnadas–”pouco mudou” desde a infância de Nem–e que alguém como Nem, que “pelo menos resolveu (…) fazer algo de sua vida”, destaca-se do resto das massas aparentemente passivas. As insinuações subjacentes são de que o morador de favela mediano viveria para pouco, e que suas circunstâncias são ocasionadas pela “falta de vontade”.
As MelhoresO documentário de Nadia Sussman sobre a violência policial no Complexo do Alemão para The New York Times é um retrato lancinante de uma comunidade detida no fogo cruzado. Por meio de entrevistas com familiares das vítimas de violência policial deste ano, incluindo a mãe de Eduardo de Jesus, de 10 anos de idade, que foi morto em maio, misturadas a filmagens de violência e tiros da própria comunidade, o vídeo destaca as falhas da intervenção policial no Alemão e as desesperadas esperanças e sonhos de paz na comunidade. Filmado e editado com sensibilidade, o vídeo expressa o trauma emocional e psicológico enfrentado pelos moradores apanhados em situações de conflito e legendas ressaltando eventos judiciais e as estatísticas de violência enfatizam a ausência de paz e de justiça.
O projeto de jornalismo solidário de Flora Charner “Eu Sou Favela: Uma Visão de Dentro para Fora” é uma série totalmente financiada por leitores que mostra “incríveis histórias de pessoas que estão combatendo a discriminação e mudando os estereótipos negativos frequentemente associados à cultura da favela”. A série dá voz a moradores de favelas de toda a cidade que fazem inspiradores trabalhos para destigmatizar e melhorar a vida em suas comunidades, incluindo Daiene Mendes, repórter da Voz das Comunidades do Complexo do Alemão, Will Ribeiro, instrutor de artes marciais do Andaraí e o guia de turismo e ativista Thiago Firmino, do Santa Marta. Os perfis fornecem uma visão diferenciada valiosa da vida diária, das qualidades e dos desafios das favelas do Rio através das histórias pessoais e vozes de membros da comunidade.
O recente relatório sobre remoções de James Young para a VICE é um olhar jornalístico profundo sobre a ampla questão das remoções forçadas e as Olimpíadas no Rio, dando voz aos moradores e especialistas e visibilidade para a contra-narrativa de que os Jogos Olímpicos estão sendo usados para promover os interesses imobiliários na cidade. O autor destaca a falácia das razões apontadas para remoções dos casos da Vila Recreio II e Vila Autódromo, o fracasso da política Morar Carioca (o declarado legado social dos Jogos Olímpicos), e os danos físicos, emocionais e sociais causados pela destruição de comunidades inteiras. Ao abordar o tema das remoções através de antecedentes históricos e da contextualização através de perspectivas comunitárias, o artigo fornece um impressionante resumo das questões envolvidas nas remoções na cidade Olímpica do Rio.
Ha duas semanas, outro artigo essencial sobre as remoções foi a memorável reportagem de Sean Gregory sobre a Vila Autódromo para a TIME (aqui em português). Embora seja importante notar que relativamente poucos moradores atuais ou removidos da Vila Autódromo sejam “empobrecidos”, como o título original do artigo sugere, esta matéria traz uma atenção essencial para as conexões interpessoais das famílias que restam com sua comunidade, sua determinação implacável de permanecer, e seus argumentos para a resistência, apesar do estado dilapidado do seu bairro. Isto é especialmente crítico em face à nova estratégia da Prefeitura de alegar aos repórteres que não resta ninguém. O destaque de citações de moradores e de traduções de grafites de resistência presta respeito e validade à luta dos moradores e deixa os leitores na outra ponta com uma sensação da mesma inspiração que visitantes da comunidade vivenciam: movidos pela esmagadora lição da comunidade de que “Nem todo mundo tem um preço”. Finalmente, como repórter de esportes da TIME, revista de língua inglesa com maior circulação mundial e 20 milhões de leitores nos Estados Unidos, Gregory acrescenta um importante contexto, enfatizando que a remoção da Vila Autódromo “não (é) exatamente de acordo com o espírito olímpico de fair play (jogo justo)” e contrária ao “voto de incorporar a favela no planejamento olímpico” da Prefeitura. Gregory, entretanto, notavelmente salienta que a Prefeitura ainda tem uma chance de “finalmente cumprir sua promessa de incorporar a favela no planejamento olímpico e melhorar a infraestrutura e serviços da comunidade de maneira que durará depois que a tocha olímpica se apagar.”
A impactante reportagem de Stephanie Nolen sobre desigualdade racial no Brasil para The Globe and Mail, a primeira traduzida pelo jornal canadense para o português (disponível aqui) expõe os extremos obstáculos que muitos moradores de favelas, a maioria dos quais são afro-brasileiros, enfrentam no combate a uma rígida, porém pouco reconhecida, hierarquia fundamentada na raça. A autora se dedicou meses em seu levantamento meticuloso sobre o assunto, e expõe uma contradição inerente: a identidade nacional do Brasil baseia-se em uma celebração da diversidade racial enquanto a desigualdade racial flagrantemente permeia a vida cotidiana. Em seguida, o artigo mergulha profundamente nas vidas de famílias brasileiras para demonstrar através de complexas histórias como essa contradição é sustentada. O rico contexto histórico fornecido mostra por que o Brasil tem conceitos únicos de raça, mas as comparações feitas com outros países, como os EUA, reforçam o quão significativo é o artigo para uma compreensão global do assunto.
A série de The Guardian,”Olimpíadas do Rio: A Visão das Favelas,” dá a respeitados repórteres comunitários uma plataforma global para suas reflexões. Na última rodada de artigos, cada jornalista escreveu uma série de notas em estilo de diário sobre os acontecimentos em sua comunidade. Michel Silva, o fundador do canal de notícias Viva Rocinha, reflete sobre como a morte de um adolescente mal chegou ao noticiário, contesta o papel social da UPP, e questiona as reais motivações por trás de hospedar uma demonstração de golfe na Rocinha. Thaís Cavalcante, jornalista da Maré, enfatiza a presença regular da polícia na vida diária na Maré, mas também documenta as atividades culturais e comunitárias que acontecem apesar dela. A série também publicou um diário da violência cotidiana no Complexo do Alemão, de Daiane Mendes. Estes repórteres comunitários trazem a profundidade e relevância que raramente é igualada por pessoas de fora, e eles rompem estereótipos através da sua escrita eloquente e apaixonada por suas comunidades. O The Guardian está de parabéns por romper a barreira entre jornalismo comunitário e o jornalismo global.
Outros artigos fantásticos deste ano incluem a cobertura de ambos The New York Times e Fusion da importância crescente de repórteres comunitários e moradores que usam vídeo para documentar a violência policial no Rio. Nós também altamente recomendamos a matéria de Jonathan Watts sobre os planos do empreendedor bilionário Carlos Carvalho para a Barra, a análise de Catherine Osborn da pacificação no Alemão em 2015, o texto de Simon Romero e Taylor Barnes no The New York Times sobre a “sombria aceitação” de assassinatos cometidos pela polícia, e a consistente cobertura de Will Carless sobre questões-chave de raça e violência. Um vídeo da BBC trouxe novas perspectivas para a discussão, convidando duas crianças da Maré para tomarem as rédeas para contar a própria história. Editora do RioOnWatch, Theresa Williamson publicou na Architectural Review um artigo sobre o complicado papel da posse da terra nas favelas que enfrentam a especulação imobiliária. Finalmente, as investigações em curso da Associated Press sobre níveis de vírus e bactérias nas águas do Rio vêm sustentando uma conversa crítica sobre o fracasso do governo em entregar uma das suas principais promessas de legado olímpico e expandir os sistemas de saneamento básico no Rio.
Em suma, estamos emocionados ao ver um grande salto de qualidade sobre este mesmo relatório de apenas dois anos atrás, quando não sentimos que havia artigos bons o suficiente para destacar, e esperamos reportagens ainda mais surpreendentes em prol de um entendimento maior e mais produtivo sobre favelas em 2016.
Confira artigos anteriores analisando a cobertura midiática das favelas aqui. E baixe o nosso completo estudo longitudinal 2009-2014 “Favelas na Mídia”, em inglês, aqui.Casa Netural si fa Teatro
Il 29 dicembre a Casa Netural si è svolto un evento meraviglioso: i nostri spazi hanno accolto per la prima volta uno spettacolo teatrale potente, toccante: Diritte, Umane. La pièce, opera della Compagnia teatrale L’Albero di Melfi, in collaborazione con il gruppo Emergency Basilicata, ha raccontato la cruda realtà della violenza subita quotidianamente dalle donne: violenza fisica, verbale, sociale. Uno spettacolo toccante che ha coinvolto emotivamente il pubblico dalla prima all’ultima battuta, che ha fatto degli spazi di Casa Netural scenografie perfette per i temi affrontati.
La regia di Vania Cauzillo e l’interpretazione delle giovani attrici coinvolte sono stati elementi impeccabili di un’esperienza davvero unica. Sentire le pareti rimbombare delle voci delle attrici, vedere gli spazi riempiti in modo nuovo e aperti a nuove contaminazioni è stato bellissimo, ci ha trasmesso la consapevolezza di quanto possa essere importante saper progettare e ogni volta ripensare i luoghi in modi nuovi, reinterpretandone le finalità e le funzionalità con la consapevolezza che uno spazio di collaborazione non può che essere così: aperto, fecondo, flessibile.
Le tre repliche consecutive dello spettacolo hanno coinvolto un pubblico attento ed emozionato, protagonista delle scene allo stesso modo di chi le interpretava, una distanza ravvicinata tra le parti coinvolte che ha reso vibrante lo scambio, a conferma del fatto che non vi sono spazi della cultura preconfenzionati, che non è possibile arroccare l’arte in luoghi accademici ma che occorre lasciarla libera di esprimersi, di espandersi e di gemmare in spazi pronti ad accoglierla.
Casa Netural vuole diventare uno spazio così, in cui costruire insieme nuovi modi dell’abitare, in cui l’arte e la vita convivano secondo una relazione naturale e spontanea e in cui l’innovazione e il lavoro si nutrano di tutta la bellezza che questi incontri “magici” sono in grado di generare.
Dal design in casa del Matera Design Weekend al teatro in casa, stiamo esplorando un’idea di bellezza di cui c’è sempre più bisogno nelle città e tra le persone e di cui vogliamo che il nostro coworking e la nostra community si nutrano sempre di più.
Creating New Norms: The Rights of Nature Tribunal
By Jeremy Lent, Patterns of Meaning, December 9, 2015
Writing from Paris while global leaders converged for the UN FCCC COP 21 and events offering profound alternative solutions, Jeremy Lent shares his perspective on the impact of the The Rights of Nature Tribunal as a turning point for our planet:
“This week, here in Paris, we saw what may turn out to be a major milestone in the history of humankind. I’m not talking about COP21, but about a 2-day tribunal which, although having no legal standing or powers of enforcement, may turn out to have an even greater impact on the future direction of our world. It was a Rights of Nature tribunal, and it represents the most recent step in an important and hopeful journey for humanity – the recognition and expansion of intrinsic legal rights.
Some historical context helps. Back in 1792, Thomas Paine, author of The Rights of Man, was tried and convicted in absentia by the British for seditious libel. Paine’s troubles arose from the fact that he was blazing a new trail that has since become the bedrock of modern political thought: the inherent rights of human beings.
Paine’s writing deeply influenced the composers of the U.S. Declaration of Independence, one of the most influential documents of modern history. “We hold these truths to be self-evident,” it declared, “that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.”
These truths, while self-evident to the founding fathers, were radical ideas for that time, so much so that even those who signed the Declaration applied them sketchily, not even considering that they might apply equally to the Africans forced to work as slaves in their plantations.
By the middle of the twentieth century, in response to the totalitarian horrors of genocide, the world came together to create a new stirring vision that would apply equally to all human beings: the United Nations’ Universal Declaration of Human Rights. For the first time in history, fundamental human rights were universally recognized and given legal protection.
Of course, these rights continue to be abused in all kinds of ways. But new norms had been established, and nowadays, following the formation of the International Criminal Court, when a tyrant wreaks havoc on his population, he knows that he might have to face legal consequences from the rest of the world.
As we enter into the heart of the twenty-first century, a new set of crises face humanity: the ravages of climate change, deforestation, industrial agriculture, the destruction of natural habitats, and the impending Sixth Extinction of species. Like Paine and his associates, a new group of visionaries are expounding a revolutionary concept that responds to our troubled era: the Rights of Nature.
This week in Paris, this group held a 2-day Rights of Nature Tribunal, part of which I had the honor to attend and film. The Tribunal was based on the idea that nature also has rights, just like humans. Its foundational document is a Universal Declaration of the Rights of Mother Earth, calling for the “universal adoption and implementation of legal systems that recognize, respect and enforce the rights of nature.”
Read complete article at Patterns of Meaning Creating New Norms: The Rights of Nature Tribunal
About the author:Jeremy Lent is President and founder of the nonprofit Liology Institute which is dedicated to fostering a worldview that could enable humanity to thrive sustainably on the earth. Jeremy is author of soon to be published The Patterning Instinct: A History of Humanity’s Future and his novel, Requiem of the Human Soul, published by independent publisher Libros Libertad in 2009.
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