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Quilombo da Fazenda (3)
Consdireações pessoais sobre o processo 1º Tropixel / Quilombo da Fazenda de outubro de 2013.
Em minha visita ao Quilombo da Fazenda na penúltima semana de outubro de 2013, muita gente que estava no evento Tropixel foram até o quilombo e parte da comunidade se reuniu para receber xs visitantes.
Eu, que tenho a mania de fugir do coquetel de inauguração e procurar o chiclete atrás do corrimão pra ver que gosto tem, sondei, especulei, questionei e concluí que um dia de trabalho era pior do que nem ter ido até lá em primeiro lugar.
Afirmei veementemente que estaria lá no dia seguinte, quinta feira.. Pois na quinta feira cheguei lá e o meu contato lá na comunidade estava me aguardando com o esquema pronto pra me receber, assim como também estava lá a pessoa do Tropixel que também estava apoiando a ação direta.
Dois dias provaram ser insuficientes para deixar o telecentro funcionando, e porque eu não poderia voltar no dia seguinte, afirmei novamente que segunda feira eu estaria lá.
Na segunda feira, feriado de aniversário do município de Ubatuba, cheguei no Quilombo cedo conforme prometido. A comunidade não estava me esperando com balões e champagne, e era exatamente isto que eu esperava.
Uma das quilombolas me relatou que não concordava com a postura da comunidade, e segundo a sua interpretação, eu deveria ter sido tratado como uma pessoa importante digna de atenção constante de muitos moradores da comunidade.
Eu então aceitei a interpretação dela sem julgar e relatei que ela podia concordar que a comunidade não estava acostumada com esta dinâmica, e a reação à minhas intervenções na comunidade não poderia ser mais natural.
A dinâmica que o Quilombo da Fazenda está acostumado é a seguinte:
Pessoas vão até lá, ficam fascinadas, enxergam todas as possibilidades, relatam que vão fazer e acontecer, que vão salvar o mundo, dizem que vão voltar no dia seguinte e nunca mais são vistas.
Ou então alguém faz algum estudo, pesquisa, garimpo, oitiva, ou qualquer registro, e levam as coisas mais preciosas que o quilombo tem para fazer qualquer coisa menos ajudar a comunidade.
O telecentro, por exemplo, como deve ser do conhecimento de algumas pessoas que já viram alguns deles, teve que contar com inúmeros projetos e artifícios do governo federal para chegar até lá da forma que eu encontrei.
A mobília era de um ministério, os computadores de outro, software de outro, máquinas foram instaladas por um programa/projeto, software por outro, reformulado por outro, a antena GESAC veio através de outro programa/projeto/decreto, etc. Tem muito mais coisas pra relatar sobre a história de qualquer telecentro semelhante, mas quem não conhece não vai entender e quem conhece não quer mais saber. Vou me ater ao que eu experienciei na Fazenda.
Eu não percebi em tempo hábil, mas agora eu vejo que talvez o fator significativo que fez a comunidade levar fé que eu ia ser "diferente" e fazer alguma coisa no quilombo, foi o fato de eu ter saído no primeiro dia e a conexão à internet ficou funcionando e de volta no ar, e de eu ter saído na quinta-feira e alguns computadores ficaram dando sinal de vida e também ficou alguma coisa para as pessoas pensarem sobre no fim de semana. A comunidade, e também pessoas de fora da comunidade associaram a minha presença a estas coisas, como se estas coisas tivessem acontecido como consequência da minha ida até o quilombo. Só fui perceber isto depois que eu saí de lá.
No primeiro dia em que eu fui no quilombo eu dei a declaração explícita. Usei todas as palavras necessárias para deixar claro que eu não tenho como ter simpatia por aquele quilombo. Eu não sou quilombola, não nasci em Ubatuba, não moro lá e não há nada indicado que determine que eu vá sair de Porto Alegre tão cedo. Porque é que eu vou me importar com um lugar onde eu fiquei alguns dias e vou demorar pra voltar, se é que eu vou voltar?
Eu declarei explicitamente que eu queria interferir o mínimo possível naquele local, também declarei que eu estava fazendo o possível para garantir que o telecentro ia voltar a funcionar e ia se manter funcionando, mas que isto significa que a mesma porta que se abre para coisas boas é uma porta que se abre para que entrem novos problemas para a comunidade.
Conexão à internet é a tal da fonte que tem água doce e salgada. Por isto a primeira coisa que eu fiz questão de fazer foi integrar pelo menos uma pessoa à rede metareciclagem, que era a única coisa que eu tinha pronta naquela hora pra apresentar. É um vínculo tímido mas condição suficiente para integrar aquele quilombo à REDES DE PESSOAS (Copyleft hd / dpadua) que podem se interessar, ajudar, acompanhar, bater palmas, chorar, se irritar, odiar, amar, lamber, torcer, orar e de qualquer forma, participar do processo.
Se eu morrer agora já fiz minha parte, mas continuo vivo e incomodando e fazendo mais e mais porque eu sou perfeccionista (me ajudem a inventar um termo melhor - por exemplo: "obstinado" (by Lelex)).
Resumindo então, considerando as circunstâncias, posso afirmar o seguinte:
- A comunidade quilombola da Fazenda é interessada e disposta a receber todos projetos e pessoas que forem lá para somar.
- A comunidade quilombola da Fazenda é calejada e cética em relação a projetos e pessoas que não cumprem o que prometem. Não estão para conversas, estão para atitudes.
- Porque eu produzi um sinal preliminar de que eu estava falando sério (mesmo sem ter me dado conta disto), a comunidade depositou a sua confiança e esperança em mim.
- Fiz a maior parte do trabalho "sozinho" - isto é, com ajuda limitada ou inexistente de pessoas de fora do quilombo, mas com ajuda quase total das pessoas de dentro do quilombo - e não fiquei reclamando que o governo não estava mandando meu salário, meu benefício, meu vale transporte e alimentação, não fiquei reclamando que xs "parceirxs" não estavam pegando junto, etc. (veja bem, não estou criticando ninguém e entendo perfeitamente as limitações de outras pessoas, projetos e processos que acontecem pelo Brasil, e tampouco estou pedindo troféu, medalha ou coisa parecida. Infelizmente faz-se necessário relatar isto desta forma e infelizmente tem que ser pelo meu punho. Ou talvez não seja, se alguém puder me ajudar a diminuir o constrangimento que eu tenho que passar escrevendo isto, me ajude que eu preciso.)
- Abraçar a Maira é melhor do que sonhar em abraçar a Maira.
- Se tudo der certo em março de 2014 eu to lá de novo. Mandem forças. Sarava.
Comentários
<quote>Usei todas as palavras
<quote>Usei todas as palavras necessárias para deixar claro que eu não tenho como ter simpatia por aquele quilombo."</quote>
É um menini muito levadinho por achar que não tem simpatia; enfia o pendrive no *&^% e vê se o Debian faz tua alma entender que boa parte da comunidade tem vc no coração.
Eu mesmo que quis ajudar, fui incopetente ; um cara chega lá falando que não quer nada com nada e fez mais coisas que algum governo jamais fez.
Falando em governo e empresas, seja por oportunismo, investigação, ou 'pura curiosidade' do que fizeram com o equipamento que foi doado por eles (que até então era um bom móvel para mamíferos voadores), enviaram uma TV do governo, dias depois da amarração feita pelo Igreja Universal.
Notifico muito usofruto por parte da comunidade, não graças a provadas e públicas, mas pessoas da população que moram nos cafundós do judas e viajaram até o fim do mundo.
A oportunidade foi dada e agora o negócio é estimular a galerinha a criar, apropriar, estudar, metareciclar e aumentar o pequeno círculo kármico da vida cotidiana.
No momento, instalando joguinhos educativos, jogo do patinho, boicotando o G (viva duckduckgo!), editores de áudio, drum machines e articulando aulas EJA nos computadores. Só não instalei ainda PureData :P
Reciclagem é coisa Séria
Posso afirmar aos senhores com tranquilidade que: Nunca antes na História deste país houve um site tão interessante que aborta-se com tal criatividade esta questão de reciclar em todos os niveis sociais. http://www.tudocondominio.com.br/telas_de_proteção_zona_oeste.asp
Agradecimentos
oi Joselino, entra na conversa ai
Ai Joselino blz? da um alô ai cara, manda notícias quando puder!
A Fenix ressurge das cinzas...
Este processo que passaste no quilombo vai ficar marcado pra sempre em sua vida por mais que digas "Usei todas as palavras necessárias para deixar claro que eu não tenho como ter simpatia por aquele quilombo. Eu não sou quilombola, não nasci em Ubatuba, não moro lá e não há nada indicado que determine que eu vá sair de Porto Alegre tão cedo. Porque é que eu vou me importar com um lugar onde eu fiquei alguns dias e vou demorar pra voltar, se é que eu vou voltar?" .
Se tornas eternamente responsavel pelo que cativas, ou cultiva no caso de ser um jardineirx . um esporo é um pouco diferente de uma semente, pois ele pode ficar congelado por um tempo, por alguma dificuldade, pois como disse e necessario uma soma de vontades, projetos e processos pra que aconteça.
Mas poder ser o catalisador deste renascimento marca a gente, antes de vc passar por lá as máquinas estavam lá, as pessoas também estavam lá pra te oferecer o que voce realmente precisava, uma oportunidade de ir a forra e fazer do seu jeito, coisa que na Casa Brasil era impossivel neh?
Acredito que fizeste o correto, deste o instrumento da pesca e ensinastes a pescar, um projeto tem que ser sustentavel, e o que "e mais importante são as pessoas, tecnologia é mato."
Me sinto imensamente agradecido pela sua persistência, perseverança e perfeccionismo. Pra todas aquelas pessoas voce fez a diferença, e acho que só isso já basta.
Agora e barulhar o Joselino, pra não apgar a chama do enttusiamo dele neh?
continuacao dos processo
Legal Iuri, também quero participar do processo. No que se refere aos contatos lá seria legal trazer mais gente para esse espaco... aqui...De resto é também uma via de mão dupla, o pessoal tem que acreditar sempre...mesmo sendo meio complexo...
Volto também breve.