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1 hora com glerm soares - entrevista mutirão da gambiarra por ricardo ruiz

ruiz: então tá

  explica melhor o interfaces

eu: Na verdade são vários nomes pra coisas bem parecidas

"interfaces" específicamente foi uma fase desenvolvida durante o segundo semestre de 2008 e começo de 2009, com o objetivo de documentar um processo de pesquisa bem solto sobre construção artesanal de tecnologias "físicas" para interagir com todo este rastro de dados que estamos largando na rede faz alguns anos

 ruiz: saquei

  entao vamos trocar o nome

 nesse rastro que tá rolando

 ruiz: onde está o Organismo?

 eu: a Orquestra Organismo é um grupo mutante, que sobretudo tem demostrado uma convergência em fomentar processos de produção coletiva de poéticas

  a coisa de "arte-tecnologia" e software livre acabaou derivando como conseqüencia

 ruiz: hehehe

  mas eu tinha perguntado era do teu organismo mesmo

 eu: demembrado, fragmentado, sem-orgãos, espalhado pelas redes

 são vírus de idéias replicadas aqui e ali em versões mutantes

  gerando novas práticas e expectativas

 ruiz: e se faz presente por ai?

lembra que a gente tavaconversando

  sobre teatroweb e tal

  mais sensorial-web

  afetos-web

  dai a pergunta é se rolou:

  ai.. aqui.. acolá

  o que estamos trocando?estamos ainda?

 eu: volta e meia a gente tem que voltar pro livro, pra cópia de xerox, pro quinteto tocando violão e inventando histórias

 ruiz: então...

  envelhecendo?

 eu: acho que desde sempre o nosso papo foi fazer com que essa prática de saber botar um site no ar, saber inventar um novo tipo de cacareco que consiga computar informação e cuspir sensorialidades fossem "naturalizados" como essa prática de todos se juntarem e tocarem violão

 algumas vezes senti que isso estava acontecendo

  durante a residência do chgp e da vanessa (que teve o apelido de "Geada")

 aquela vez que ficamos tentando fazer uma "reaktable" tosca, antes mesmo de todo essa onda em cima desse tipo de interface, em Salvador, no colégio ativistinha

 essa semana o Figo veio pra cá e ficamos fuçando numa biblioteca chamada mimosa-lib (já em homenagem a Mimosa máquina de histórias)

é engraçado porque estamos tentando colocar essa nossa prática como algo bem espontâneo

 mas ainda nos deparmos com a dificuldade de isso ter que sempre ser apresentado como uma coisa super "especializada"

  e o que buscamos é aquela outra situação

  que é a mesma de quando 4 pegam os violões

  um ou outro chegou a estudar teoria ou conservatório

 mas todo mundo pensa "no final é musica"

  e ninguém fica muito envergonhado de dedilhar junto

  cantar, que seja

  ...

 ruiz: e a gente consegue trocar isso por web?

  as cartas que enviou e as fotos de volta, as intromissoes via web ou telefone... voce acha que reproduz as sensações?

 eu: sempre são novas sensações

  me parece que você esta falando duma limitação dos meios

 de um contato físico que nao acontece a todo momento nestes outros meios

  por outro lado a gente tem essa sensação confortante de saber que estamos sincronizando pensamentos

 com pessoas que tão geograficamente distantes

  e isso acaba gerando as novas possibilidades todas

  ...

 eu no momento sinto uma necessidade grande de sistematizar a comunicação destas descobertas dos últimos anos

 de criar umas arestas mais visíveis deste simulacro todo

  mas ao mesmo tempo eu sei o quanto isso é um tanto de vício da ilusão que a gente aprende na escola

 de que as coisas tem uma "disciplina" definida

  ...

  Eu sei que temos condições de pensar e construir e cantar um mundo melhor,

 mas no fundo lutamos em admitir que este mundo já existe

  e a gente só precisa ficar lembrando uns aos outros disso...

 ruiz: :)

  então essas ferramentas, essas interações, essas trocas, têm fundamento, tem porquê e funcionam para o objetivo comum de viver sempre nesse mundo melhor que já existe?

eu: mas tou pensando aqui principalmente

  em um tipo de "furo" que ainda existe nessas nossas tentativas de fazer encontros-eventos "broadcast", tempo real essas coisas

  isso que você chama de "orquestrar"

 talvez fosse potencializar convergências

  pra que elas possam rolar mais diluídas e soltas, em apresentação

  em pares

  tipo com interesses específicos se complementando

 a gente tem que conseguir resolver essa jogada

 que é o problema de uma expectativa um tanto espetacular que é gerada nessas recorrentes propostas de broadcast coletivo

  a questão acho que é sobretudo - tempo e rotina

  ...

 ruiz: requer tempo

  e rotina

 eu: talvez se a gente conseguisse criar desde já uma dinâmica de encontros

 eu: daí um acontecimento desses rolaria com uma naturalidade maior

voltando até na sua pergunta "o que é o interfaces"

  acho que entendo bem o que procura essa pergunta...

 ruiz: hehehe

 eu: porque sei que que a gente tá com um monte de idéia incubada

 e a gente parece que não dá conta de gerar um cenário que já tá todo esquematizado nas nossas cabeças

  a gente faz mil sites

 mas falta encontro mesmo

  e não são todos que têm a coisa de cair na estrada

  alguns quase nada

 outros bastante mas daí sem tempo pra criar o significado compartilhado disso tudo

 ruiz: encontro é a parada...

 eu: porque por exemplo

  eu ja fiz ali 8 videos sobre o puredata

 faz duas semanas que to aqui querendo fazer mais uns 10 que planejei

  mas sei que a maioria não teve tempo de ver nem 2 :)

  a gente tem uma ilusão de simultaniedade que nos causa uma grande ansiedade

 porque a gente sabe a potência de encontro que a gente tem

  mas a vida offline passa em minutos, não em bytes