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Doações de grandes empresas?

 

Vira e mexe alguém acha esse site e, por meio do link contato, manda mensagens que vão parar na lista de discussão. Elas costumam trazer dúvidas sobre doações, convite para participação em eventos, entrevistas para periódicos e pedidos de ajuda para trabalhos de faculdade, geralmente sobre lixo eletrônico. 

 

Ontem (27/10/11), a Ana Carolina - que estuda logística e transporte e está focando seu trabalho de conclusão de curso na logística reversa da Itautec - enviou três perguntas. Orlando e eu respondemos da seguinte forma:

 

1) Vocês recebem computadores de empresas ou de usuários individuais?

 

Orlando: É complicado enquadrar a MetaReciclagem assim. As ações são descentralizadas.Mas você vai encontrar encontrar aqui o Felipe Fonseca falando que a Meta não recebe mais doações, com uma justificativa bem sensata.

 

2) E ainda pelo que eu entendi vocês promovem uma oficina que ensina as pessoas reutilizar esses computadores. Esses trabalhos desenvolvidos são revendidos? Ou seja, geram renda para o projeto e para as pessoas que a produzem?

 

Orlando: Não se trata de uma oficina, mas também tem oficinas. Você pode ler uma versão das histórias da rede aqui.

 

3) Seria interessante receber doações de empresas grandes fornecedoras de computador?

 

tatiprado: Não, por diversas dificuldades, de naturezas diferentes:

*recursos humanos - não há gente suficiente e mão de obra especializada para dar conta do volume tão grande de equipamentos;

*saúde pública e ambiental - nem tudo pode ser reaproveitado e o manuseio dos componentes, sem o devido cuidado, traz riscos enormes à saúde das pessoas e ao meio ambiente (descarte em local inadequado, queima, etc.). O reuso também é algo questionável quando se pensa no consumo de energia;

*logística e transporte - as empresas de reciclagem deste tipo de material ainda são uma coisa meio obscura e não estão presentes em todos os estados. Mesmo que estivessem, não dá pra andar quilômetros com os equipamentos voluntariamente e as necessidades locais para reuso também variam muito;

*relação "descarte de equipamentos x reuso x descarte de materiais" - esta equação não fecha porque há um desequilíbrio enorme entre o tanto que a gente consome, o pouco tempo que os equipos duram (ainda mais no caso da itautec), a capacidade de absorção do que pode ser reutilizado e a reciclagem dos materiais;

* financeira - o custo pra fazer toda a dinâmica funcionar é alto pra que 'organizações' da sociedade civil (centralizadas ou descentralizadas, juridicamente constituídas ou informais)  possam assumir sozinhas;

* legal - existe uma lei que determina a responsabilidade das empresas por coletar este tipo de equipamento;

* política - a sociedade é grande e complexa. Cada vez que alguém assume a responsabilidade que não lhe cabe, o desequilíbrio aumenta. Se cada um faz a sua parte bem feito, é melhor pra todo mundo. O Estado fez a lei, tem que fiscalizar, as pessoas podem consumir menos/doar seu equipos e jogar no lixo certo, as empresas precisam investir em pesquisa pra produzir coisas de melhor qualidade e com menor dano sócio-ambiental, além de coletar o material após o término da sua vida útil.

 

Por tudo isso, a simples doação (sem parceria, contrapartida financeira, pesquisa acadêmica e articulação social) das grandes empresas aos pequenos agentes sociais é uma solução eticamente inviável, na minha opinião.

 

 

Ainda nesta conversa, Orlando sugeriu alguns pontos pra incentivar a reflexão: 

 

Por que um movimento, rede, ação social deveria servir como recurso de descarte de lixo eletrônico de grandes corporações? 

 

Se for o caso, você entende que isto deva ser planejado de forma a manter a responsabilidade das empresas pela destinação final? Ou seja, propicia o uso de equipamentos obsoletos (para os padrões de operações de alta tecnologia) por estes movimentos, ações, mas mantém a responsabilidade pelos custos de movimentação e de condução para destinação correta daquilo que não puder mais ser utilizado? 

 

E, pra terminar, eu reafirmei a necessidade dela pensar nisso tudo e seguir em frente com o trabalho:

 

Pensa nas perguntas do Orlando, faz um trabalho bem bacana e vai lá apresentar pra Itautec. A gente precisa mesmo de ajuda e de gente realmente preocupada com o problema do lixo eletrônico.

 

Bom, quem quiser ver a 'conversa-fonte', a trédi tá aqui. E esta página de wiki tá aberta para o que vier depois, com ou sem a resposta da Ana Carolina.