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MonografiaMeta

Material

Bem galera, fiz uma matéria na faculdade chamada Informática e Sociedade e escrevi uma pequena monografia. O tema que eu escolhi foi Metareciclagem e o Dalton sugeriu que eu colocasse meu projeto aqui pra todo mundo dar pitaco! Esse foi o texto final que entreguei para o professor, mas quem quiser enriquecer fique à vontade:
 

Universidade de Brasília – UnB
Disciplina: Informática e Sociedade
Aluna: Haina Castro Rêgo
Matrícula: 02/23620

MetaReciclagem
Resumo
Origem do MetaReciclagem, software livre, legislação ambiental sobre o lixo tecnológico, impacto ambiental, MetaReciclagem, oficinas de Meta.

Introdução
    MetaReciclagem é uma metodologia descentralizada de reapropriação tecnológica para a transformação social. É um coletivo que defende a utilização de computadores velhos que ficam guardados ou são jogados no lixo poluindo o meio ambiente.
    O conceito envolve mais do que reciclagem de computadores, mas essa é uma das principais atividades do meta, e o grupo faz várias oficinas em todo o país difundindo essa consciência ambiental, aumentando o acesso à tecnologia e a apropriação tecnológica.

Estrutura
    O grupo metareciclagem surgiu numa lista de discussão do projeto Metáfora, hoje extinto. A idéia inicial era a de criar uma rede livre sem fio usando placas wireless de segunda mão, repetidores reciclados com latas de batata frita e gateways feitos com máquinas recicladas.
    Surgiram várias outras idéias usando redes sem fio, veio a necessidade de organizar todo o material, links e sugestões do pessoal. Sugerem contactar o CDI - Comitê de Democratização da Informática, já que eles já faziam um trabalho na vertente digital das atividades sociais, mas percebem que qualquer ação social envolvendo computadores deve usar software livre, e o CDI vem de uma parceria com a Microsoft.
    A discussão social em torno do software livre envolve aspectos de seu desenvolvimento colaborativo, do envolvimento da comunidade na sua concepção. Não faz sentido usar software proprietário que só aumenta a dependência da tecnologia estrangeira e coloca as pessoas numa posição de atuar somente como clientes, passivos diante dos programas e equipamentos. O software livre permite que a comunidade se aproprie de fato da tecnologia, dos softwares. Permite que todos possam sugerir mudanças, possam adaptar os programas de acordo com suas necessidades e oferece várias opções para cada função.
    Aparecem idéias de fazer uma ONG para distribuir computadores com aplicações open-sourced preparados para funcionar nas redes livres já idealizadas, ensinar tecnologia aberta à sociedade, fomentar um debate sobre conhecimento livre mas a ONG nunca chegou a se concretizar.
    O assunto é deixado um pouco de lado enquanto o pessoal do Metáfora discute outros temas até que ressurge a idéia com novo ânimo: batalhar doações de computadores usados. Vem o projeto de arrecadar computadores doados, cada pessoa batalharia doações em sua cidade, montando uma lista de contatos para futuro uso quando o projeto estivesse mais estruturado. Surge a discussão de qual distribuição usar, se uma distro própria, boot via floppy, servidores e clientes.
    Software livre, computadores doados, muita gente com muito boa vontade. Surge o termo MetaReciclagem e o conceito não pára de crescer. De uma idéia sobre redes livres a um conceito abrangente. Meta é mutação e seu conceito está em constante transformação.
    O coletivo do meta não gosta de ser definido como um grupo de inclusão digital nem entendem seu trabalho como apenas fazer telecentros. Mas, se reciclar um conceito é metareciclar, se pegar dois gabinetes e colocar como pés de uma mesa também é, então o que é meta? MetaReciclagem é verbo e não substantivo porque as pessoas não podem fazer parte do Meta, fazem Meta.
    Cada um define meta de uma forma diferente, o conceito de um dos metarecicleiros é: “Meta é o que cada pessoa pensa que é”. A base da metareciclagem é a reapropriação tecnológica para transformação social. Os principais focos são a criação de centros de MetaReciclagem e a pesquisa e desenvolvimento de alternativas tecnológicas livres e flexíveis.
    Hoje o projeto conta com pessoas em todo Brasil e tem pessoas que já fazem meta e vão descobrindo que podem se unir ao grupo. Essas pessoas formam esporos de meta em suas cidades. Os esporos de meta são locais nos quais as pessoas pesquisam a criação de estruturas livres, captam doações de equipamentos, organizam oficinas, workshops, montagem de redes usando software livre, arte com peças de computador, pintura de gabinetes.
    Existe uma lista de discussão que é o local em que os metarecicleiros fazem as discussões, compartilham experências, sugerem mudanças, conversam sobre soluções livres, combinam eventos, trocam conhecimento. O grupo tem esporos espalhados pelo Brasil como no Rio de Janeiro, em São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Minas, Piaui, Amazonas, Santa Catarina e todos se comunicam por meio da lista. A inscrição nessa lista é aberta e está disponível no site do metareciclagem www.metareciclagem.org.
    Os esporos de meta arrecadam doações de pessoas, entidades e empresas. As empresas que trocam seus computadores acabam guardando os equipamentos em depósitos porque são responsáveis pelo lixo tecnológico e podem ser punidas se jogarem esses equipamentos em aterros, existe uma legislação que abrange esse tema.
    Em 1989 na Convenção de Basiléia foram aprovadas 3 listas conferindo ao lixo eletrônico a categoria de resíduo perigoso, sujeito ao banimento; Propõe o banimento dos resíduos com ligas de arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio, aparelhos ou restos de aparelhos eletroeletrônicos. Ainda estão sendo discutidas diretrizes sobre os resíduos de baterias ácidas, de chumbo e sobre a recuperação e reciclagem de metais e compostos metálicos.
    No Brasil, em 1991, o Congresso Nacional decretou o Projeto Lei 203/91, onde institui a tão esperada política nacional de resíduo sólido que ainda aguarda aprovação do Congresso. Os objetivos são estabelecer diretrizes que levem a redução da quantidade e nocividade dos resíduos sólidos gerados no país; Instrumentos: educação ambiental, pesquisa científica, cooperação técnica
    Em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Agenda 21 estabeleceu-se um compromisso para um desenvolvimento sustentável. Em muitos capítulos foram relatados os problemas oriundos dos resíduos sólidos, propondo mudanças nos padrões de consumo. Na Agenda 21, temas como redução, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos tiveram grande abragência.
    No Brasil, em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) institui resolução 257/02 que atribui às empresas a responsabilidade sobre o material tóxico que produzem, devendo informar a toxicidade dos produtos nas embalagens além da obrigatoriedade da implantação de postos de coletas do material, para posterior acondicionamento em aterros especiais ou reciclagem.
    O processo de fabricação de um computador usa dez vezes o seu peso em produtos químicos e combustíveis fósseis. Quando um computador é jogado no lixo, esses componentes que contém grande quantidade de material poluente liberam metais pesados no solo e consequentemente na água, assim esses produtos acabam nas plantas e no organismo dos animais, prejudicando sua saúde.
    Os elementos químicos geralmente presentes em um computador são alumínio, arsênio, bário, berílio, cádmio, chumbo, cobalto, cobre, cromo, estanho, ferro, gálio, germânio, índio, mercúrio, níquel, ouro, prata, tântalo, titânio, vanádio e zinco além de outros elementos muito perigosos, como: gases de efeito estufa, substâncias halogenadas, como os clorofluorocarbonetos (CFC), bifenilas policloradas (PCBs), cloreto de polivinila (PVC) e retardadores de chama bromados, bem como o amianto.
    Os metais pesados podem se acumular no fígado, rins, pele, pulmões, trato gastrointestinal, baço, ossos, unhas, pâncreas, testículos, coração, cabelos, cérebro e a longo prazo, podem ocasionar normalidades cromossômicas, efeitos teratogênicos (deformação fetal), enfisema pulmonar, descalcificação óssea, lesão renal, constrição dos vasos sanguíneos, problemas no coração, elevação da pressão arterial, efeitos no sistema nervoso central, anemia, alterações hepáticas e câncer em diversos órgãos.
    Poucas pessoas têm acesso ao computador. Os computadores que são jogados no lixo ganham novas funções resolvendo temporariamente o problema ambiental, então o MetaReciclagem tenta fazer esses equipamentos funcionarem na medida do possível e fazem arte ou encaminham as peças que sobram a entidades e/ou empresas de reciclagem especializadas já que um computador é composto basicamente de plástico, metais, dispositivos eletrônicos, borracha e aproximadamente 94% desse material é reciclável.
    Computador velho tem aparência amarelada, encardida, então o pessoal que faz meta pinta as máquinas para deixá-las mais atraentes para os usuários e ainda para aproximar o usuário do equipamento, mudando a postura da pessoa diante do computador, deixando-a ativa. Com o software livre as pessoas percebem que podem sim, mesmo não sendo programadores, contribuir com a evolução dos programas que usam e deixar de ser um mero consumidor.
    Durante o ano de 2006 aconteceram em todas as regiões do Brasil várias oficinas de meta. Em cada lugar encontra-se uma realidade diferente e consequentemente a oficina tem que ter uma abordagem diferenciada em cada um desses lugares.
    Quando se faz uma oficina de meta, inicialmente o que vem na cabeça das pessoas é a montagem de um telecentro e nada mais, mas durante a conversa elas acabam percebendo a abrangência do assunto. O meta leva o software livre junto e os dois conceitos são indissociáveis, afinal não faz o menor sentido tranformação social com o aumento da dependência à Microsoft.
    Uma oficina de meta envolve toda a discussão sobre essa tranformação social, sobre software livre, sobre a doação de equipamentos, questões técnicas sobre hardware e software, soluções para o uso de computadores antigos.
    O mercado impôs essa obsolescência programada aos consumidores de equipamentos. Quando é lançado um novo sistema, ele exige mais memória, mais processamento, um computador novo e mais caro. Ao mesmo tempo as pessoas não querem continuar a versão anterior do software porque está desatualizada. Na verdade existem soluções com software livre que tornam possível que o usuário tenha a última versão dos programas com um computador “obsoleto”.
    Durante a oficina as pessoas conversam sobre todos esses conceitos que o meta abrange, sobre software livre e sobre a apropriação, sobre a postura ativa diante de um computador. O computador é apenas uma ferramenta que pode ajudar a fazer coisas, ele não pensa nem executa nada sozinho e já que ele existe para ajudar, nada mais lógico que você domine ele e use de acordo com o que precisar e não de acordo com as ofertas do mercado. Se o que uma comunidade precisa é fazer textos e usar internet, então ela não precisa da máquina recentemente lançada com várias funções e programas que a pessoa talvez nunca irá usar.
    Existem distribuições de linux desenvolvidas para computadores antigos como o komain por exemplo. Existe também o modelo cliente/servidor que possibilita a montagem de um telecentro com poucos recursos e ótimo desempenho. O LTSP (Linux Terminal Server Protocol) é uma solução para esse modelo. No LTSP um servidor é configurado para oferecer todo o sistema via rede a seus clientes, assim, um cliente dá o boot por um disquete e inicia o sistema todo via rede puxando tudo do servidor. As configurações mínimas para LTSP são processador 386, 5MB de memória RAM, placa de rede e drive de disquete.
    Existe também o XDMCP que possibilita que o cliente inicie todos os aplicativos a partir de um servidor X (interface gráfica), que é o que pesa no processamento da máquina. Com esse modelo faz-se uma instalação básica  nos clientes e habilita-se o xdmcp no servidor. O XDMCP exige mais memória RAM e mais processamento do que o LTSP e já que o sistema é instalado localmente a máquina também deve ter HD.
    Recentemente foi desenvolvido o bootex, um disquete que tem um kernel básico e que utiliza o xdmcp do servidor. Esta solução requer máquinas com a configuração mínima de processador 386, 5MB de memória RAM, Placa de vídeo VGA que suporte VESA 1.1 ou 2.0, Teclado não-USB e Mouse PS/2 ou serial e placa de rede suportável pelo disquete, mas como o bootex é livre pode ser adicionado suporte a qualquer placa de rede.
    Após as oficinas, o pessoal que faz meta sempre espera deixar nas pessoas uma vontade de se apropriar do processo e continuar a fazer metarecilagem em suas cidades. Quando isso acontece vem a recompensa de todo o trabalho.
Conclusão
    A possibilidade de acesso à tecnologia, o uso de software livre e a diminuição da quantidade de lixo tecnológico no meio ambiente são problemas que podem ser amenizados com a ação de metareciclagem.
    O grupo tem várias ações para ampliar sua atuação, para contaminar as pessoas e as empresas para doações, reciclagem e arte. A principal ação são oficinas de metareciclagem, é um passo pequeno mas que pode começar com uma mudança de postura.
Bibliografia
www.metareciclagem.org
www.a7brasil.com.br
www.tcgrecycling.com
http://www.mma.gov.br/