MutiraoInversaodaResistencia
http://pub.descentro.org/inversao_da_resistencia
Enviado por Felipe Fonseca em 23/02/2007
(Antonio Albuquerque) Os Estados Unidos aparecem no cenário mundial a partir da segunda revolução industrial e do processo de maturação do processo do capitalismo. Para os Estados unidos é canalizado todo o fluxo de capital do mundo. Esse processo de capitalização de dinheiro dos Estados Unidos no século XX se faz também com a grande apropriação do conhecimento todo, se faz também com a propriedade intelectual, com a lei de patentes, com a formação das grandes empresas multinacionais, com seus ramos pela sociedade global em outros países, capitalizando para os Estados Unidos conhecimento e riqueza e dinheiro e bens de capital. O conhecimento das partes é colocado na sociedade. O que nós estamos querendo colocar é: qual é a resistência do Brasil? Na verdade as grandes empresas é que vão ter que resistir ao processo de restabelecimento de um processo social de produção coletiva de conhecimento, que já existia antes da formação do capitalismo. Esta é a questão, a resistência é deles e não nossa, o que nós estamos fazendo na verdade é caminhar no processo do capital, é o processo mais fácil, é o processo de colaboração, é resgatar esse processo, que é o processo natural. Eles que vão ter que resistir para manter esse processo, que é antiético, que faz com que a população seja cada vez mais pobre, três quintos da população mundial hoje já vive na faixa de miséria, o globo terrestre não suporta esse modelo, está destruindo as águas, destruindo as florestas, destruindo o ar. É um modelo insustentável! E o que está acontecendo? Com o software livre e com o processo que vai além do software livre, essa tomada de consciência resgata uma produção social e coletiva do conhecimento que está espalhado por todas as partes, por todos os pólos do mundo.
(FF) Os que existe de revolucionário no software livre acontece de maneira descentralizada. Quer dizer, não são pessoas que têm o objetivo de fazer o melhor browser do mundo, o melhor software do mundo, são pessoas resolvendo seus problemas locais, o próprio objetivo da evolução do software livre é um bando de pessoas que quer resolver pequenos problemas e isso de uma maneira emergente acaba criando um contexto que é revolucionário. É uma outra maneira, uma maneira emergente de enfrentar as coisas que várias pessoas têm em comum.
(Chico) O Pajé antes tava insistindo em um lance que "tem uma idéia por trás", o "o que está por trás"? Eu quero discordar de tudo o que o Pajé falou, porque eEle está obcecado no que está por trás das coisas. Eu acho que a gente vive justamente um momento que as idéias não estão dando conta das coisas que estão acontecendo. Outro dia eu estava conversando com o Rhatto, e ele estava falando que na faculdade de meteorologia tem um cluster com sessenta processadores e que não existe ninguém que consegue programar pra esses computadores. O pessoal está ainda tentando conseguir desenvolver programas pra esse cluster que consigam explorar toda a potencialidade desse objeto técnico, dessa configuração que os caras criaram. Então, tem uma aceleração do desenvolvimento técnico que é a aceleração da aceleração e a gente está tentando entender e nem sempre tem uma idéia que está por trás que consegue determinar pra quê aquele objeto técnico vai servir, como ele vai ser utilizado, quais vão ser as conseqüências, os desdobramentos da inserção desse objeto técnico nas redes sociais e tal. Eu gostaria de chamar a atenção pra isso.
(Chico) Acho que eu consigo responder a primeira questão do Pajé que ele, num tom provocativo, falou: “Ah, e aí? Vocês estão usando ai o processador Pentium e não sei o quê, e aí como é que fica? E o software livre? Pra que que serve então?” Que eu acho um discurso fácil e muito simples de tentar esgotar as possibilidades criativas do software livre ou de qualquer forma de resistência porque o fundamento do argumento do Pajé é o fundamento da negação entendeu? Você não está negando o Pentium usando software livre, então você não está combatendo o Pentium.
(Chico) Eu quero discordar também do Antônio, que estava com um referencial marxista, querendo colocar o determinismo econômico. Mas não basta a gente mudar os proprietários dos meios de produção pra gente mudar a estrutura de produção. O caso da União Soviética estava aí, esteve aí, pra nos mostrar isso. Mudaram-se os patrões, as pessoas continuaram trabalhando da mesma maneira e não mudou nada, continuou tendo produção de mais-valia, as pessoas eram exploradas e continuou a mesma coisa, e depois o negócio acabou. A minha viagem é assim: o tipo de resistência. E quando o Dalton fala: “ah se uma empresa pegar eu acho que eu não tô nem ai, eu vou achar legal, se o Debian conseguiu se estabelecer porque o pessoal foi usando” é mais uma estratégia de contaminação, o pessoal começa a utilizar o software livre, começa a utilizar o Debian, a o camarada colocou: “É, mas aí está se apropriando do seu trabalho!” Entendeu? Mas não, ele está usando o Debian e daqui a pouco vai ter um mais monte de gente usando o Debian e vai abrir espaço pra mais pessoas conhecerem e utilizarem um software que é produzido dentro de uma outra ecologia de produção de conhecimento, dentro de uma outra ética, como algumas pessoas falaram. Então eu quero citar aqui o acadêmico Bodinho, porque a partir de suas leituras de Deleuze e Guattari ele me ensinou uma outra maneira de utilizar o conceito de resistência. A resistência, segundo Guattari seria a negação: "eu vou resistir". A resistência baseada na negação está fundada em um paradigma da física mecânica, da ação e reação. E o outro tipo de resistência que ele propõe é a re-existência que é a construção de novos espaços de existência. Então, não é que eu sou contra as coisas, que eu quero destruir o Pentium e tal, não, eu quero construir novos espaços de existência porque não dá simplesmente pra gente fazer revolução e derrubar as coisa e tal, porque a lógica é outra e o barato é outro.
(Chico) A gente está falando de física quântica mas pensando: existe uma empresa, existe o trabalhador, existe o indivíduo, enfim, cada um é vários, não existe um eu. E a gente tem que quebrar com essas coisas também da maneira como a gente pensa e aí tem essa coisas da teoria e da prática que a gente também tem que mudar como pensa. Não adianta ver o novo, que são essas coisas que estão acontecendo, com as categorias do velho, pensar o novo a partir do velho que você não vai entender. Entendeu?
(Bodinho) Falaram da academia em vários momentos e sempre se tem a imagem que a academia, essa visão do cara sisudo, do cara com vários livros, com roupas escuras e dialogando com o estabelecido. O Jubinha é um acadêmico. Olha pro Jubinha, olha o perfil do Jubinha, ele faz um novo uso da academia. E a academia como um espaço público, garantido pelo Estado, possibilita uma produção intelectual livre, e existem pessoas aqui dentro que conseguem talvez traçar umas linhas mais marginais, umas linhas mais criativas, que não passam por esse sistema quadrado e fechado. São pessoas que tentam relançar, intervir de alguma maneira. O Canário falou que a gente é acadêmico, a gente aqui até faz uma brincadeira neste sentido que começou no cineclube de exibição e foi virando várias outras coisas, ou seja, eram os acadêmicos fazendo um cineclube. Então, enquanto espaço público, garantido pelo estado com uma relativa tecnologia, com um relativo acesso à tecnologia, na academia cabe à gente achar professores que orientem teses mais alternativas, o C. está aí, eu também estou fazendo. O Novaes citou um texto que estamos ajudando a fazer nós mesmos que é do professor Luis Orlando(?) aqui do Ifich. Ou seja a possibilidade, a “peneira”, aqui tem buracos muito largos e aqui é um lugar onde a gente pode emplacar uma coisa que a gente diz muito que é 171, dá pra você fazer vários 171, uma gambiarra acadêmica. Então talvez este seja o depoimento de um acadêmico, e existem acadêmicos que não são uns sisudos, não são uns chatos como esses acadêmicos que estão desfrutando das benesses do Estado.
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