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MutiraoMetaEspelho

Uma auto-entrevista Felipe Fonseca

Respondi a um mala agora há pouco:

Felipe Fonseca é um dos fundadores da rede MetaReciclagem, que propõe a apropriação crítica de tecnologias de informação para a transformação social. Foi entrevistado em frente a um espelho.

Como funciona?
A MetaReciclagem é uma rede aberta, que conta com a participação voluntária de pessoas em diferentes regiões do Brasil desenvolvendo diferentes projetos de apropriação e desconstrução de tecnologia. Em geral são iniciativas auto-gestionadas, que vão desde a criação de espaços para o recebimento de doações de eletrônicos usados até a
realização de eventos, oficinas, instalações e intervenções. As ações de MetaReciclagem articulam-se em rede, não tendo um organismo cental de coordenação. Muitas vezes têm o alcance limitado a poucas pessoas. Por outro lado, a MetaReciclagem (e toda a experimentação realizada nessa rede) influenciou o desenvolvimento de grandes programas de
inclusão digital, no governo federal, no estado de São Paulo e em algumas administrações municipais. A lista de discussão que concentra a maior parte da articulação da MetaReciclagem conta hoje com mais de 350 pessoas, e calcula-se que alguns milhares já passaram pelos diferentes cursos, oficinas e eventos desenvolvidos com essa perspectiva. Com o tempo aprendemos que na verdade os projetos de MetaReciclagem não tratam de reciclagem de equipamentos, e sim remanufatura, re-significação ou reinvenção. Uma explicação alternativa é que se trata de reciclagem "de pessoas", mas essa é uma interpretação mais romântica.

O que acontece com os computadores ou resíduos eletroeletrônicos?
As diferentes ações de MetaReciclagem propõem diversos usos possíveis para as tecnologias, desde os mais estruturais – utilizar peças de computadores usados para criar espaços de acesso à internet – até aqueles com fins educativos ou experimentais. Algumas dessas iniciativas propõem um deslocamento do uso da tecnologia – propor desvios, usos não previstos pelo fabricante, explorar novas possibilidades. O mais importante nas ações de MetaReciclagem não é a escala quantitativa, mas as possibilidades que o desconstruir da tecnologia traz em processos criativos, educacionais e de mobilização. Estamos tratando em um nível que de certa forma é bastante abstrato, mas bastante fácil de apreender justamente por se tratarem de objetos físicos. Em relação à destinação dos resíduos depois dessas ações, não existe nenhuma determinação quanto a isso. Um dos planos futuros é construir uma estrutura online para gerenciar as doações e inventários dos diferentes esporos de MetaRecicagem, com indexação geográfica e acompanhamento de doações, o que facilitaria a agregação de esforços para encaminhar os resíduos. Sobre a questão ambiental Existem várias considerações a se fazer em relação às diferentes variáveis ligadas à questão do e-waste. Eu não acho que exista uma
posição absoluta, mas sim a necessidade de busca de equilíbrio. Desde que começamos a MetaReciclagem, nos posicionamos a favor de uma série de princípios – a apropriação de tecnologias, o uso de software livre, a criação de ambientes para o agenciamento de redes distribuídas de inovação, a busca de alternativas econômicas baseadas na livre circulação de informação, a publicação de conhecimento com base em licenciamento livre. Em paralelo a isso, também adotamos desde sempre uma postura crítica em relação à obsolescência programada, à transformação de ferramentas de comunicação em mero fetiche tecnológico e ao desperdício de recursos computacionais. Mas se é desperdício jogar tecnologia funcional ou semifuncional no lixo, por outro lado quanto mais antigo o equipamento, menor sua eficiência no
aproveitamento de energia. Em outras palavras: computadores mais antigos tendem a gastar mais energia, e isso também deve ser levado em conta se estamos pensando na questão ambiental como um todo.