Mutirão Projeto Inicial
A proposta inicial do Mutirão da Gambiarra idealizada por Felipe Fonseca consistiu no desenvolvimento de uma plataforma online para a coleta, organização e análise de documentação gerada nos mais de cinco anos de atividade da rede MetaReciclagem. Tinha também por objetivos a formação de um grupo editorial e a elaboração de uma metodologia aberta de edição colaborativa online.
[leia mais sobre a proposta reformulada em MutiraoGambiarraNucleoEditorial]
Alguns trechos do projeto enviado ao des).(centro em 24 de janeiro de 2008:
Sumário
Publicação multimídia de código aberto Mutirão da Gambiarra – desenvolver ambiente online de discussões, DVD com documentação multimídia e livro experimental, fomentar o debate e a consolidação de idéias geradas nos cinco anos de existência da rede aberta MetaReciclagem.
Justificativa
Em 2007, o projeto MetaReciclagem completou cinco anos como rede aberta de inovação em tecnologia social. Desde sua criação, dezenas de projetos foram elaborados e desenvolvidos com a perspectiva da desconstrução tecnológica como metodologia de aprendizado, criação de espaços simbólicos e apropriação de estruturas. A rede MetaReciclagem proporcionou a emergência de grupos de ação, influenciou projetos de governo e terceiro setor, possibilitou intercâmbios internacionais e consolidou-se como espaço autônomo de reflexão crítica e ação tática de apropriação tecnológica. Mais do que isso, estabeleceu as bases de um grupo aberto e auto-organizado que propõe uma maneira tipicamente brasileira de entender e usar a tecnologia, uma atualização da antropofagia com o movimento hacker, do tropicalismo com o software livre, um mutirão da gambiarra que só é possível por conta de sua natureza de rizoma autônomo, que se infiltra em diferentes estruturas de poder e promove agenciamentos coletivos. Uma formação inovadora, original e tipicamente brasileira, que propõe um modelo de organização coletiva adequada ao século XXI, ao cenário de crescente disseminação de tecnologias e à problemática de inclusão e engajamento social que acompanha esses processos.
Objetivo
O objetivo principal do Mutirão da Gambiarra é organizar a documentação advinda das diversas ações da MetaReciclagem e promover análise e reflexão com base nessa documentação.
Metodologia
Para o desenvolvimento da publicação multimídia de código aberto Mutirão da Gambiarra, será aplicada uma metodologia de produção colaborativa, estabelecida em torno de um grupo editorial formado a partir de chamadas abertas. Serão utilizadas ferramentas colaborativas online para um nível crescente de produção e troca, abrindo o processo de desenvolvimento da publicação a comentários e contribuições de interessados. Trata-se de um processo de formação de uma comunidade editorial, focado em processos abertos de desenvolvimento e mobilização. Toda a produção, parcial e final, bem como relatos sobre o próprio processo, serão disponibilizados em tempo real no endereço http://mutirao.metareciclagem.org.
Histórico
O processo de evolução e maturação da MetaReciclagem partiu de um grupo de pessoas em São Paulo que propunha o reaproveitamento de computadores usados e considerados obsoletos, com o objetivo de criar espaços informacionais em comunidades que ainda não tinham acesso a esse tipo de estrutura. Partia de uma perspectiva de desconstrução da tecnologia para criar processos inclusivos, que não se limitassem a oferecer somente acesso, mas também promover a dinamização de redes de mobilização social e aprendizado distribuído. Com o passar do tempo, a MetaReciclagem não cabia mais na denominação genérica e oportunista da inclusão digital, e seus integrantes passaram a procurar níveis mais elaborados de ação crítica e compreensão da apropriação de tecnologia como fenômeno social. Conceitos como colaboração, produção coletiva de conhecimento, re-significação da tecnologia e apropriação crítica passaram a servir de base para outros níveis de experimentação e criação. Do grupo inicial, a MetaReciclagem transformou-se em metodologia livre e aberta, passível de replicação em qualquer localidade. Com o tempo, passou a ser adotada em diversos projetos de tecnologia social e a pautar e influenciar políticas públicas de universalização do acesso à tecnologia, além de interagir com outros projetos em todo o mundo.
A MetaReciclagem recebeu menção honrosa no Prêmio APC Betinho de Comunicações em 2005, e na categoria Digital Communities do Prix Ars Electronica 2006. Foi também selecionada como finalista no prêmio APC Chris Nicol de Software Livre e de Código Aberto em agosto de 2007.
Publicação de código aberto
O movimento do software livre conseguiu provar a viabilidade do desenvolvimento descentralizado e emergente de produção intelectual. Centenas de milhares de programadores em todo o mundo são responsáveis pelo desenvolvimento de uma miríade de soluções para virtualmente qualquer necessidade de software.
Essa maneira de produzir tem influenciado outras áreas de conhecimento. Muitas experiências têm sido realizadas com base nos princípios do software livre. Entretanto, acabam muitas vezes se limitando à distribuição de obras acabadas, e não ao profundo processo de catalisação da colaboração que o software livre propõe. Propor a geração de conhecimento livre não se trata apenas de permitir a sua livre distribuição, mas de criar processos efetivamente abertos e colaborativos, amparados em comunidades ativas de desenvolvimento.
A idéia de uma publicação de código aberto vem, nesse sentido, propor mais do que a mera disseminação de conhecimento, mas a adoção de princípios colaborativos para todo o processo da obra - publicação das fontes, material bruto, entrevistas, referências, artigos, criação de uma comunidade editorial colaborativa e processos coletivos de decisão.
Áreas de investigação
Como publicação de código aberto, a idéia é que a proposta editorial detalhada seja desenvolvida de maneira colaborativa. Entretanto, como incentivo ao debate, será utilizada uma primeira provocação, uma proposta editorial que tem por objetivo ser questionada. Ela se compõe de três partes:
I. História da e histórias de MetaReciclagem
A MetaReciclagem surgiu em 2002 como fruto de intensas trocas em uma lista de discussão que contava com mais de uma centena de pessoas distribuídas por todo o Brasil, e vindas de diferentes áreas do conhecimento. A princípio um grupo de ação localizado em São Paulo que propunha a reutilização de equipamentos eletrônicos usados, logo a MetaReciclagem foi catalisada como rede de identidades múltiplas que propunha a desconstrução da tecnologia – aqui entendida de maneira ampla, de computadores à linguagem – e sua re-significação em outros contextos, tendo como horizonte a transformação social. Tomando como referência o movimento do software livre, a MetaReciclagem passou de um grupo de pessoas a uma metodologia aberta e livremente replicável. Nesse ínterim, travou diálogo e mútua influência com projetos de governo, terceiro setor, universidade e empresas. Todas essas interações geraram histórias que, de maneira emergente, compõem uma linha evolutiva da idéia de MetaReciclagem.
II. Teoria da prática da teoria e vice-versa
Todo o processo de desenvolvimento da MetaReciclagem foi construído colaborativamente, por meio de profundo diálogo entre aquelas pessoas mais voltadas à prática e aquelas de base mais teórica. Nesse sentido, ela está carregada de diversas referências conceituais e simbólicas, explícitas ou veladas. Pelo menos duas teses de mestrado já foram elaboradas tomando a MetaReciclagem como tema ou referência, e outras estão a caminho. Até o momento, no entanto, pouco foi feito para integrar e relacionar toda essa produção.
Uma série de iniciativas que tinham por objetivo o aprofundamento da reflexão relacionada à MetaReciclagem foram planejadas no fim de 2006, e posteriormente levadas a cabo, sob a definição genérica de Ciclo Gambiarra: o LaMiMe, Laboratório de Mídias da MetaReciclagem, que ocupou a sala de internet livre do Sesc Av. Paulista no verão de 2007, e os Diálogos na Casinha, debates simultaneamente presenciais e online sobre questões relacionadas à apropriação tecnológica, improviso e o tal "jeitinho brasileiro".
Uma série de questões foram levantadas tanto na prática do LaMiMe quanto nas conversas na Casinha, totalmente relacionadas com outras questões já históricas na MetaReciclagem. Nesta seção da publicação, o objetivo é justapor as referências teóricas e práticas da MetaReciclagem, e buscar as relações possíveis.
III. Metamitogênese
Se por algum tempo a MetaReciclagem tentou definir-se como um movimento que buscava a desmitificação da tecnologia, hoje existe uma compreensão que vê o mito como fundamental na aprendizagem social instintiva, na identidade de grupo e na proposição de uma imanência cultural. Hoje a MetaReciclagem não tenta mais somente destruir os mitos que acompanham o desenvolvimento da indústria tecnológica, mas também usar seus restos como base para novos mitos que ajudem na construção de arranjos sociais humanos, abertos e colaborativos. Esta seção vai abrigar produção simbólica e experimentação narrativa relacionada à rede MetaReciclagem: música digital low-tech, ficção tecnomágica, vídeos documentais, quadrinhos pedagógicos, e todas as possíveis combinações dessas palavras.
Cronograma proposto
Fevereiro e Março 2008 - estruturação do ambiente online.
Abril 2008 - Chamadas abertas por editorxs e colaborações
Abril a Junho 2008 - pesquisa e edição de material
Julho 2008 - versão 0.1.
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