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Curso de Metareciclagem

A metareciclagem como forma de aproximação entre pessoas e diferentes tipos de artefatos tecnológicos, com o objetivo de promover a sua apropriação, em busca da transformação social, da ação colaborativa em rede e do aprendizado distribuído.

Autoria: Dalton Martins / Felipe Fonseca

Contribuições e adaptação: Equipe de Formação do Casa Brasil

Licença Creative Commons

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial 2.5 Brasil. Para ver uma cópia desta licença, visite         http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/.

Apresentação

Sumário

1 - Filosofia do Módulo
   1.1 - MetaReciclagem e Casa Brasil
   1.2 - Mas que por que falar de MetaReciclagem no Projeto Casa Brasil
   1.3 - Os fundamentos e a prática.
2 - MetaReciclagem – Fundamentos
   2.1 – MetaReciclagem - Apropriação tecnológica para a transformação social
       2.1.1 - Introdução.
   2.2 - Tecnologia Social
   2.3 – Base Conceitual da Metareciclagem
       2.3.1 - Lixo tecnológico
       2.3.2 - Autonomia e apropriação vs. Inclusão digital
       2.3.3 - Lowtech / baixa tecnologia
   2.4 - Abrindo o hardware / desvendando a caixa-preta
   2.5 - Descentralização integrada e metodologia emergente
   2.6 - Conhecimento livre e ação em rede
       2.6.1 - Do software livre ao conhecimento livre
   2.7 - Arte e MetaReciclagem
   2.8 - Desaparecimento como tática
   2.9 - Econômico e Ecológico
3 – Metodologia
   3.1 - Princípios
   3.2 - Esporos
   3.3 - ConecTAZes
4 - Rede MetaRecicleira
   4.1 - Listas de discussão
   4.2 - Weblogs
   4.3 - Wikis
   4.4 - Links
   4.5 - Agregador
   4.6 - Chat por irc
   4.7 – Fotos
5 – Metodologia de Reciclagem
6 - Atividades

 

 

1 - Filosofia do Módulo
1.1 - MetaReciclagem e Casa Brasil

Iniciativas de democratização do acesso às tecnologias de informação e comunicação só podem ser consideradas efetivas à medida em que promovem o uso crítico dessas ferramentas.
A Metareciclagem tem por objetivo promover a aproximação entre as pessoas e os diferentes tipos de artefatos tecnológicos, levando a outros graus de apropriação destes, em busca da transformação social, da ação colaborativa em rede e do aprendizado distribuído. A MetaReciclagem, mais do que um projeto relacionado com tecnologia, é uma metodologia educacional segundo a qual se aprende fazendo e questionando. A geração de autonomia e a proposição de novas formas de mobilizar pessoas, organizar suas idéias e catalisar a inovação coletiva também são metas da MetaReciclagem.
A MetaReciclagem é, acima de tudo, um esforço de desconstrução do discurso da indústria de TI: a obsolescência programada (tendência a trocar de equipamentos de tanto em tanto tempo), a restrição dos usos previsto para as tecnologias, a dependência de especialistas, etc.

1.2 - Mas que por que falar de MetaReciclagem no Projeto Casa Brasil?
Partindo do conceito de tecnologia social, que será explorado mais adiante, podemos dizer que a tecnologia, nesta perspectiva que aqui nos interessa, deve ser desenvolvida na interação com a comunidade, e deve portanto visar a trasformação social. É aí que a MetaReciclagem pode potencializar o trabalho desenvolvido nas unidades do Projeto Casa Brasil. Para muito além do uso social das tecnologias, interessa-nos os fundamentos/ações voltados à desconstrução dos discursos e práticas presentes na indústria de TI, bem como a apropriação comunitária destas tecnologias.


1.3 - Os fundamentos e a prática
A metareciclagem é um conceito que pode se manifestar por meio de diferentes ações: reunião de um grupo de pessoas, realização de listas de discussão, propostas metodológicas descentralizadas, e outros movimentos colaborativos. A ênfase que pretendemos dar aqui, como já afirmamos anteriormente, é na MetaReciclagem como proposta-ação de desconstrução dos discursos e práticas presentes na indústria de TI e também na apropriação de tecnologia, tendo como objetivo a transformação social e comunitária.

Nos fundamentos de MetaReciclagem, serão debatidos os conceitos de "tecnologia social", lixo tecnológico, autonomia e apropriação tecnológica. Também será abordada a MetaReciclagem como metodologia de organização, replicação etrabalho em rede, e as diferentes instâncias em que a MetaReciclagem toma forma: os esporos, conecTAZes e os ambientes online de intercâmbio sobre MetaReciclagem.
Entraremos ainda na prática da MetaReciclagem, objetivando demonstrar como a MetaReciclagem torna-se concreta: da reciclagem de computadores à criação de novos usos para tecnologias de gerenciamento de mídia e afins.
Uma vez entendida a organização, como é que a gente começa?
Começaremos por algumas dicas e conselhos para o desenvolvimento de espaços e ações de MetaReciclagem; trataremos também de algumas questões recorrentes e recursos disponíveis.                                         


2 - MetaReciclagem – Fundamentos
2.1 – MetaReciclagem - Apropriação tecnológica para a transformação social
2.1.1 - Introdução

A MetaReciclagem é uma rede de pessoas e organizações espalhadas por todo o Brasil que desenvolvem ações e projetos relacionados à apropriação tecnológica para a transformação social. Ou seja, ações e projetos que propõem uma outra maneira de entender, usar e transformar a tecnologia. Isso se aplica à tecnologia de maneira ampla, embora os projetos mais conhecidos de MetaReciclagem até hoje tenham sido relacionados ao reaproveitamento de computadores usados. A MetaReciclagem se organiza em três níveis: os Esporos, as ConecTAZes e a InfraLógica. Qualquer pessoa pode fazer parte da MetaReciclagem, desde que siga alguns princípios norteadores, sobre os
quais falaremos mais tarde.


Exemplos de ações de MetaReciclagem:

  • Um centro de captação de computadores usados;
  • Um curso sobre ferramentas de colaboração que usa somente cadernos, canetas, papel kraft e post-it;
  • Uma oficina de brinquedos feitos de sucata;
  • Um videowall feito com computadores velhos;
  • Terminais de acesso à internet feitos com latões de lixo;
  • Uma coleção de links sobre medicina natural, disponibilizada na Internet;
  • Uma oficina de tecnologia do cotidiano, com artefatos tecnológicos simples, sem computadores;
  • Um seminário sobre cultura livre e digital.
  • Em essência, não há limite que defina de antemão que tipo de atividade pode ser considerada parte da MetaReciclagem. É uma decisão tomada por cada uma das pessoas que participam, e não por um conselho deliberativo ou coisa parecida. A questão é identificar fatores como a desconstrução do discurso tecnológico, o compartilhamento, e a comunicação em rede.

Para que você conheça mais do conceito e das práticas de MetaReciclagem, é interessante conhecer o que outros grupos fizeram por aí e que chamam de MetaReciclagem. Vamos navegar por algumas experiências, visitar projetos e ver as práticas de atividades que podem ilustrar um pouco melhor esses conceitos que estamos trabalhando.
Inicialmente, iremos visitar alguns vídeos sobre MetaReciclagem. Vejamos:

  1. Site da comunidade MetaReciclagem: www.metareciclagem.org
  2. Assista a alguns vídeos sobre MetaReciclagem: http://www.youtube.com/results?search_query=metareciclagem
  3. Conheça algumas imagens de projetos de MetaReciclagem: http://metareciclagem.org/gallery/main.php


2.2 - Tecnologia Social

  • O que é Tecnologia?
  • O que é Social?
  • O que é Tecnologia Social?

A palavra Tecnologia vem do grego tekhno (de tékhné, que significa 'técnica, arte') e tem como radical logía (de lógos, que significa 'linguagem, estudo'). O termo envolve todo tipo de conhecimento técnico e ferramentas criadas ou utilizadas a partir de tal conhecimento.
Assim, encontramos na wikipédia uma definição em sentido amplo, é “um termo que inclui desde as ferramentas e processos simples, tais como uma colher de madeira e a fermentação da uva, até as ferramentas e processos mais complexos já criados pelo ser humano, tal como a Estação Espacial Internacional e a dessalinização da água do mar.” [http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnologia]

O termo, portanto, não se aplica somente aos computadores e dispositivos de ponta, mas também à escovas de dentes, machados, ao controle do fogo, à invenção da roda, etc.
Mas então o que é Tecnologia Social?
No verbete Tecnologia Social, a wikipédia diz tratar-se de “todo produto, método, processo ou técnica, criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade (e reaplicabilidade) e impacto social comprovado.” Como exemplos de Tecnologia Social, temos “do clássico soro caseiro até às cisternas de placas pré-moldadas que atenuam o problema da seca, passando pela oferta de microcrédito”. É claro, devemos acrescentar aí a MetaReciclagem.
Tecnologia social é, então, aquela voltada para a resolução de problemas sociais e comunitários, tais como: demandas por água potável, saneamento, alimentação, educação, energia, habitação, renda, saúde e meio ambiente, etc. Neste sentido, a MetaReciclagem, enquanto metodologia de apropriação tecnológica para a tranformação social, encaixa-se perfeitamente no conceito de Tecnologia Social.
Vemos, portanto, que a Tecnologia Social é a tecnologia desenvolvida na interação com a comunidade, visando a trasformação social. Mas, como vimos também, não basta que essa tecnologia seja voltada para a resolução dos problemas sociais e comunitários, é fundamental que ela possa ser multiplicada, reaplicada em outras comunidades. É neste sentido que a Tecnologia Social deve articular-se com o 'Conhecimento Livre' e com a 'Ação em Rede'.

Iremos realizar uma visitação a alguns projetos de tecnologia social.

  • O que há de interessante neles?

E duas questões a se discutir com seus colegas:

  1. Uma questão a se discutir: Que idéias/projetos de desenvolvimento de tecnologia social você imagina para sua própria comunidade?
  2. O que você gostaria de desenvolver ou ver desenvolvido para os problemas de sua comunidade?

Vejamos por onde começar:

2.3 – Base Conceitual da Metareciclagem
2.3.1 - Lixo tecnológico

A Wikipédia traz a seguinte definição de Lixo Tecnológico, lá chamado de Lixo Eletrônico: “é o nome dado aos resíduos resultantes da rápida obsolescência de equipamentos eletrônicos (o que inclui televisores, computadores, geladeiras e outros dispositivos).
Tais resíduos, descartados em lixões, constituem-se num sério risco para o meio ambiente, pois possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, tais como mercúrio, berílio, chumbo e cádmio. Em contato com o solo, estes produtos contaminam o lençol freático; se queimados, poluem o ar. Além disso, causam doenças graves nos catadores que sobrevivem de vender materiais coletados nos lixões.”

  • Mas qual o limite entre objetos, artefatos tecnológicos, sucata e lixo?

Em quase todos os mercados, mas especialmente em relação aos produtos tecnológicos, há o que se chama “obsolescência programada”, que consiste “no fato de a indústria produzir bens de consumo com vida útil mais curta do que seria tecnicamente possível”. Na prática, os produtos são feitos para saírem de circulação rapidademente. Sendo quase descartáveis, obrigam os cidadãos, tratados como meros consumidores, a consumirem os mais novos produtos.
Inverter essa lógica é tarefa da MetaReciclagem, uma vez que ela trata do reaproveitamento, do reuso e da re-significação da tecnologia.
MetaReciclar é também transformar o problema ambiental do lixo tecnólogico, em solução de apropriação social da tecnologia.

 

2.3.2 - Autonomia e apropriação vs. inclusão digital
Dentro da rede da MetaReciclagem, há alguma controvérsia sobre a abrangência do termo "inclusão digital".
Hernani Dimantas pensa a inclusão digial como tendo três fases:

  • fase 1: acesso ao computador
  • fase 2: acesso à informação (caracterizado pelas ações dos telecentros e infocentros).
  • fase 3: acesso à informação, circulação desta informação e a produção local de conhecimento.

Hernani entende a MetaReciclagem como um projeto desta terceira fase da inclusão digital.
Felipe Fonseca prefere não usar esta definição. Já Daniel Duende defendeu uma visão sobre apropriação que pode trazer novas idéias para o debate.
O mais importante é ter em mente que muitos têm usado a idéia de inclusão digital como um "produto social" da moda, sem maior reflexão crítica sobre o que significa "entrar" para a tal sociedade da informação. O que interessa é inverter a perspectiva: em vez de planejar maneiras de as pessoas adaptarem-se à tecnologia, pensar como podemos adaptar a tecnologia para que ela possa transformar a vida das pessoas?
Ampliando o âmbito da questão - da inclusão digital para a apropriação de tecnologia - no processo de apropriação tecnológica, nós podemos identificar 3 momentos diferentes:

  1. modificação da aparência visual de equipamentos: quando pintamos as coisas, colamos adesivos, mudamos a aparência de equipamentos.
  2. abrir a caixa-preta: quando abrimos equipamentos e aprendemos a consertá-los, reparar suas peças e substituir por outras.
  3. recriar o significado dos equipamentos: quando usamos motores de uma impressora para a criação de um robô, quando usamos pedaços de computadores para criarmos um objeto de arte, enfim, quando transformamos a tecnologia.

Neste sentido, a criação de tecnologias sociais deve passar por esta apropriação comunitária e social da tecnologia.
 
2.3.3 - Lowtech / baixa tecnologia
Existe um grande fetiche pela alta tecnologia. O hi-tech, ou raitéqui, encontra grande espaço na mídia. Todo mundo quer saber o que vem depois, qual a próxima grande onda. Em certa medida, esse é um movimento patrocinado pela indústria da tecnologia, a quem interessa que as pessoas troquem todo ano seus computadores, celulares, televisões, etc. A MetaReciclagem trata de reverenciar o oposto: levar ao extremo a utilização de todo tipo de tecnologia. Como eu faço para otimizar o uso, tirar o máximo desse dispositivo?

Como eu faço para criar novos usos para ele? Como tornar seu uso e entendimento como fenômeno social, de forma colaborativa e cooperativa entre os envolvidos, sem o viés meramente utilitarista pessoal?

  1. Procure saber o que acontece com o lixo tecnológico em sua cidade, comunidade e bairro. Para onde vão as pilhas, equipamentos quebrados, baterias de telefones celulares? O que é feito desse material?
  2. Uma outra questão: No processo de apropriação tecnológica, nós podemos identificar 3 momentos diferentes.
  3. O que podemos fazer juntos, utilizando as tecnologias de nosso cotidiano, nessas 3 fases?
  4. Que tipos de projetos gostaríamos de participar ou incentivar a criação

2.4 - Abrindo o hardware / desvendando a caixa-preta
Muita gente tem uma relação distante com a tecnologia por medo. Medo de quebrar, medo de não saber mexer, medo do que os outros vão falar. Existem centenas de projetos comunitários que recebem computadores e os deixam trancados na sala da diretora. Se queremos que as pessoas se apropriem da tecnologia para mudar suas vidas, temos que inverter essa lógica. A maior missão da MetaReciclagem é fazer as pessoas perderem o medo de se aproximar da tecnologia.
 

2.5 - Descentralização integrada e metodologia emergente
Em função de seu modelo aberto e descentralizado, a MetaReciclagem ganhou uma escala e velocidade enormes. Entre estar presente em ações realizadas somente por um ambiente de discussão na internet, ou por um grupo limitado de pessoas em um lugar específico, a proposta da MetaReciclagem não opta por uma ou outra possibilidade, possui simultaneamentes estas duas
interfaces. A Metareciclagem se manifesta, portanto, na forma de rede e, quando necessário, se comporta como organização.
E por ser aberta, a MetaReciclagem não tem limites que determinam quem está dentro ou fora da rede. Como se dá isso? O princípio primeiro, é considerar que cada espaço de MetaReciclagem deve ser auto-gerido, ou seja, tomar suas próprias decisões, de acordo com regras locais. Outro aspecto importante da MetaReciclagem é o fato de comunicar as ações realizadas através das ferramentas de comunicação em rede. Dessa forma, a MetaReciclagem não se apresenta somente por meio de práticas de grupos pré-determinados, mas nas diversas ações de um conjunto de pessoas e organizações que seguem os princípios da MetaReciclagem.
E um texto de referência: A tirania das organizações sem estrutura.


2.6 - Conhecimento livre e ação em rede
2.6.1 - Do software livre ao conhecimento livre

A MetaReciclagem foi profundamente influenciada pelos fundamentos do software livre, mas não somente em aspectos técnicos. Desde o princípio, a opção pelo software livre se deu por conta da sua flexibilidade: ao trabalhar com máquinas antigas, há a liberdade de abrir o código para desabilitar qualquer funcionalidade que não seja necessária. Mais do que isso, porém, a maneira como o movimento do software livre se organiza e, principalmente, a sua relação com o conhecimento e a produção intelectual é o que interessa à MetaReciclagem. Uma das questões que acompanha a história da MetaReciclagem é entender de que maneira essa forma de produção, baseada na abundância de idéias e na liberdade para acessar, transformar e redistribuir o conhecimento, pode ser estendida para outras áreas, como a comunicação, a educação, a pesquisa tecnológica e a arte. A partir da popularização da internet, surgiram diversas ferramentas de colaboração que permitem que grupos de pessoas se organizem e tenham sua própria estrutura online de comunicação, sem precisar de apoio de técnicos especializados. Muitas dessas ferramentas são oferecidas gratuitamente, o que possibilita a formação de comunidades de interesse e de troca de oportunidades de maneira extremamente simples. A MetaReciclagem parte do uso dessas ferramentas para encontrar pessoas com interesses similares, e a partir disto construir e
disponibilizar repositórios de conhecimento livre em diversas áreas.
 

Suas experiências de abrindo a caixa-preta

  • Quais foram as experiências que você já vivenciou e que serviram para seu aprendizado abrindo brinquedos, abrindo relógios, abrindo ferramentas, aparelhos eletrônicos, etc?
  • Quando você abriu, você descobriu coisas novas? O que desse aprendizado você achou mais interessante? Será que é possível aplicarmos isso ao aprendizado de novas tecnológias?


2.7 - Arte e MetaReciclagem
A partir de intercâmbios com uma série de artistas, principalmente Glauco Paiva, a MetaReciclagem começou a enveredar pelo mundo da arte, em diferentes aspectos. Por um lado, a experimentação com sucata e o reaproveitamento de equipamentos leva a um questionamento sobre as possibilidades de criação de novos significados para objetos que já tinham um propósito explícito ou definido. Além disso, podemos expandir as possibilidades de exploração de linguagens com base na perspectiva de desconstrução do discurso tecnológico – "que tipo de narrativa pode ser
construída com esse dispositivo"? Os exemplos vão dos sensores de piso metareciclados do palm e do CHGP ao Cozinhando com Puros Dados do Glerm


2.8 - Desaparecimento como tática

  • Muitas vezes nos perguntamos e fomos perguntados: por que a MetaReciclagem não se torna uma ONG?

Muita coisa seria mais fácil assim. É verdade. Mas correríamos o risco de perder uma de nossas maiores forças: a inovação continuada. Por mais que seja cansativo, a maneira como a MetaReciclagem funciona hoje, na forma de uma organização descentralizada, leva a um processo de reinvenção constante. Não só a atividade-fim, mas a própria estrutura e objetivos da MetaReciclagem estão permanentemente em transformação.
Dessa forma, temos uma agilidade imensa: podemos participar de um evento, criar um laboratório, fazer uma intervenção, e em questão de minutos desaparecer, ir para outro lugar. É uma concretização do nomadismo psíquico, de uma perspectiva de não ter amarras ou limites.


2.9 - Econômico e Ecológico
Os integrantes da MetaReciclagem sempre tiveram uma série de ressalvas com aqueles projetos que tentavam transformar um assunto interessante e complexo como a inclusão digital como simples ferramenta de transformação econômica. A idéia de "capacitar" populações carentes para se adequarem ao mercado de trabalho é em si uma armadilha, por diversos motivos. Entretanto, nunca fugimos do fato de que a falta de sustentabilidade financeira é o motivo pelo qual uma série de projetos interessantes acabaram abandonados. Para a MetaReciclagem, a apropriação de tecnologia é essencialmente uma questão cultural, de transformação pessoal e social. Mas o aspecto econômico não pode ser esquecido.

A MetaReciclagem não se opõe à busca de sustentabilidade  - pelo contrário, a apropriação de tecnologia pode muito bem criar novos ciclos econômicos, independentes do mercado tradicional. Por definição, apoiamos iniciativas de geração de trabalho e renda, desde que elas não tenham por objetivo somente a transação econômica. Espaços de MetaReciclagem podem, e com freqüência são, catalisadores de movimentação econômica - através da venda de equipamentos, cursos, consultorias. Se essas atividades são feitas com o objetivo de possibilitar a transformação social, e não fogem aos demais princípios da MetaReciclagem, não há problema algum.

  • Será que você já é um MetaRecicleiro e não sabe?


3 – Metodologia
3.1 - Princípios

Uma questão fundamental quando se fala de metodologia da MetaReciclagem é a seguinte:

  • O que diferencia a MetaReciclagem do simples recondicionamento de tecnologia ou simples reciclagem?

A resposta é longa, mas podemos resumir mencionando que a MetaReciclagem se baseia em alguns princípios. Como trata-se de um grupo aberto, sem um comitê de aprovação ou qualquer coisa parecida, precisa definir quais são as situações em que alguém pode chamar suas ações de MetaReciclagem. Ou seja, qualquer pessoa pode se tornar um metarecicleiro. Você já é um MetaRecicleiro? Talvez. Olhe só:

  • Apropriação crítica da tecnologia:  máquinas são máquinas. Desconstruir o papel delas é tarefa fundamental de um metarecicleiro. Tratar a tecnologia como artesanato, como um quebra-cabeças simples, que pode e deve ser aberto, exposto, desmontado e remontado. Apropriado, enfim. Nenhuma autoridade deve ser concedida àquele que entende mais sobre computadores. Aliás, metareciclagem não depende de computadores: metareciclar tecnologia pode começar com lápis e papel. Um metarecicleiro promove uma relação de aproximação com a tecnologia e com seu funcionamento.
  • Ênfase na tecnologia social: a tecnologia (assim como o "digital") é ampla em significado e pode ser usada para objetivos mesquinhos ou superficiais. O uso que queremos dar à tecnologia é o uso social: a tecnologia como meio para agregar pessoas que têm interesses, dificuldades, oportunidades, em comum.Um metarecicleiro usa a tecnologia como meio para promover a colaboração e a cooperação.
  • Software livre para gerar conhecimento livre: usamos exclusivamente software livre e de código aberto, nem tanto pelo custo, mas por entendermos o conhecimento como bem coletivo e livremente apropriável. No mesmo sentido, buscamos sempre a criação de repositórios de conhecimento livre com base na prática cotidiana. Um metarecicleiro documenta o que faz e usa a rede metarecicleira para compartilhar essa documentação.
  • Descentralização integrada:  temos uma lista de discussão, justamente para integrar e promover o intercâmbio de conhecimento e oportunidades entre pessoas em diferentes esporos de MetaReciclagem.
    Um metarecicleiro usa a lista de discussão para contar para os outros o que anda fazendo.


3.2 - Esporos
Na biologia, um Esporo é uma unidade independente de reprodução. Ou seja, uma maneira de um organismo se reproduzir sem a necessidade de a segunda geração depender da primeira. Aqui, usamos o termo Esporo para denominar um espaço de desenvolvimento de MetaReciclagem. Os Esporos são instâncias auto-geridas. Ou seja, grande parte das decisões são tomadas localmente. Dessa forma, um Esporo de MetaReciclagem é uma unidade de geração de autonomia e independência na apropriação crítica de tecnologia.
A MetaReciclagem começou com um Esporo junto ao Agente Cidadão, uma ONG em São Paulo, e logo foram desenvolvidos outros Esporos, como no Parque Escola, em Santo André; no mezanino do telecentro Olido e em um centro do movimento Humanista, no centro de São Paulo; no espaço IP, no Rio de Janeiro; e em diversos outros espaços em todo o Brasil.
Os objetivos de um Esporo de MetaReciclagem são concentrar localmente a captação de doações de computadores e outros equipamentos, manter laboratórios experimentais de uso e transformação de tecnologia, e promover cursos e seminários. Os Esporos acabam por tornar-se centros de referência sobre apropriação tecnológica, e podem virar estruturas de apoio ou suporte para entidades do terceiro setor, escolas e outros interessados.

  • Pesquise sobre os Esporos de MetaReciclagem mais próximos de você. Entre em contato com as pessoas.
  • E se não existe nenhum Esporo de MetaReciclagem por perto, que tal organizar um? Mobilize pessoas próximas, lance a idéia, comece a conversar.

3.3 - ConecTAZes
MetaReciclagem se vale da idéia das TAZes para a criação de eventos e espaços nômades de interação e de inovação tecnológica.
A ConecTaz é uma intervenção que visa a criação de redes sociais de troca e conversas. Pode ser permanente ou temporária, fixa ou móvel. Utiliza-se de software livre por princípio. A ConecTAZ pode ser vista como a aplicação prática da tecnologia metareciclada, ou uma ação que se utiliza ou se beneficia de tecnologia metareciclada, em oposição ao Esporo, que desenvolve a metareciclagem.

Desde que a MetaReciclagem começou, em 2002, várias ConecTAZes já aconteceram. A idéia sobre uma Zona Autônoma Temporária é de como um grupo, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizadas podem maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual, organização para a maximização de atividades prazeirosas sem controle de hierarquias opressivas.

  • Você tem alguma idéia de ConecTAZ que poderia ser realizada junto com a sua comunidade?

Pensar num projeto de um evento de Conectaz na sua comunidade, levando em consideração os seguintes passos:

  1. Onde irá ocorrer?
  2. O que você gostaria de fazer nesse evento?
  3. Que pessoas você gostaria de convidar a participar de sua comunidade?
  4. Quanto tempo vai durar o evento?
  5. Quanto ele vai custar?
  6. O que lhe falta para fazer isso acontecer?


4 - Rede MetaRecicleira
O que faz com que a MetaReciclagem seja mais do que uma série de eventos isolados é a rede MetaRecicleira, que possibilita a troca de idéias, oportunidades e - por que não? - críticas e reclamações, entre as diferentes ações de MetaReciclagem.


4.1 - Listas de discussão
Uma lista de discussão é uma das ferramentas mais acessíveis para a produção colaborativa: pessoas podem se cadastrar e, a partir daí, mandar e receber e-mails para todo o grupo. As listas de discussão são audiências intermediárias entre a comunicação de um para um (e-mail, messengers, telefone, etc) e a comunicação de um pra muitos (televisão, rádio, grandes sites). A grande facilidade das listas, comparadas a outras ferramentas, é que você não precisa ir atrás da informação: você recebe toda a informação no seu próprio e-mail.
Você pode navegar em sistemas como o Yahoo Grupos ou o Google Groups para encontrar listas de discussão relacionadas a assuntos de seu interesse, ou então utilizá-los   para    criar   sua   própria   lista  de    discussão.
A lista de discussão do projeto MetaReciclagem é a porta de entrada para o projeto. Grande parte das ações relacionadas a MetaReciclagem são comunicadas por lá. Navegue no histórico da lista para ver as conversas anteriores, e cadastre-se para participar. Você receberá mensagens da comunidade MetaReciclagem no seu e-mail e poderá conversar com os demais integrantes do projeto.

4.2 - Weblogs
Weblogs, também chamados de blogs, podem ser considerados diários online - sites pessoais oucoletivos em que não é necessário saber código HTML e nem obter a aprovação de um editor para publicar. Os blogs permitem que qualquer pessoa ou grupo de pessoas tenha seu espaço próprio, sua voz, sua expressão, na internet. Você pode criar um blog facilmente usando um dos serviços gratuitos disponíveis, como o blogger.com ou o wordpress.com, ou então usando um script livre no seu próprio servidor. Blogs podem ser utilizados como ambientes de divulgação, de debates ou até mesmo de organização de projetos.
Na MetaReciclagem, os weblogs são utilizados para contar sobre o dia a dia, sobre o que acontece em cada esporo. Os metarecicleiros podem escrever no weblog geral ou criar blogs locais, como o pessoal no Amazonas.

4.3 - Wikis
Um wiki é um site baseado em um sistema de fácil edição. Wikiwiki significa "rápido" em um dialeto havaiano. Na maioria dos wikis, qualquer pessoa pode editar qualquer página ou criar novas páginas a partir das existentes. Wikis são um grande exemplo de democratização do acesso à informação e também de democratização da produção de informação. Talvez o wiki mais conhecido no mundo seja a Wikipédia, uma enciclopédia que pode ser editada por todo mundo - inclusive eu e você. Você também pode criar seu próprio wiki, em sistemas como o wikia, ou então usando um script livre no seu próprio servidor.
O wiki da MetaReciclagem é utilizado para estruturar idéias de projetos e ações. Você pode editar qualquer página, desde que se cadastre.

4.4 - Links
No dia a dia de um MetaRecicleiro, surgem espontaneamente diversos links que podem interessar aos demais. Para evitar que a lista de discussão seja inundada por esses links, nós temos um ambiente de gerenciamento de links. Lá você pode guardar links para posterior consulta, e o melhor é que eles são publicados e ficam disponíveis para todo mundo.


4.5 - Agregador
Além dos sistemas mencionados acima, existem muitos outros ambientes online que publicam informações sobre a MetaReciclagem. Para ficar a par, você pode acessar o agregador.metareciclagem, que pega periodicamente informações de todos os outros sistemas.


4.6 - Chat por irc

Você também pode querer conversar diretamente com outros metarecicleiros. Para isso, é necessário um cliente de irc. Se você usa GNU/Linux, pode usar o Xchat ou mesmo o Gaim; em windows existe o mirc; e para mac OS o ircle.
Para conectar-se, utilize esses dados:

  1. Servidor (server): irc.freenode.net
  2. Sala (channel): #metareciclagem

Na maioria dos programas de irc, você vai digitar:

  • /server irc.freenode.net
  • /join #metareciclagem


4.7 – Fotos
Fotos de ações relacionadas à MetaReciclagem podem ser publicadas na Galeria: http://metareciclagem.org/gallery/


5 – Metodologia de Reciclagem
A metodologia de trabalho do MetaReciclagem pode ser descrita de forma mais completa através das etapas em que os projetos são desenvolvidos:

  1. Estabelecimento de um parceiro local que tenha uma compreensão da importância da idéia, das possibilidades de desenvolvimento e do potencial de crescimento;
  2. Constituição de um grupo inicial de moradores da comunidade atraídos para o projeto através do parceiro local;
  3. Constituição mínima do espaço de MetaReciclagem: adaptação de mobiliário, instalações elétricas, sempre visando adaptações locais e de baixo custo;
  4. Captação da primeira doação de máquinas com base em contatos locais com empresas, governo e instituições interessadas no projeto, como a mídia local e ONGs;
  5. Período de formação básica em reciclagem de computadores, software livre, captação de computadores (visão estratégica do negócio) utilizando como material o primeiro lote de doação;
  6. Operacionalização do espaço de MetaReciclagem como um laboratório de reciclagem e formação continuada;
  7. Abertura de um TeleCentro para acesso à tecnologia reciclada pela comunidade local;
  8. Início das primeiras prestações de serviço, venda de equipamentos a baixo custo e estruturação estratégica e burocrática de um empreendimento popular;
  9. Lançamento do empreendimento popular;
  10. Suporte ao empreendimento e formação continuada;
  11. Ligação em rede para colaboração e troca de conhecimentos, doações e experiências entre os mais diversos empreendimentos populares.

6 - Atividade
Após ler, refletir e debater os textos base propostos nos módulos anteriores, agora finalmente chegamos à prática!
O exercício proposto agora é algo que chamamos de desconstrução da tecnologia, um aprendizado da engenharia reversa. A partir disso, você poderá tomar notas dos princípios constitutivos de qualquer tecnologia e partir novamente para uma reconstrução a partir de sua experiência.

  •  Pense, o que há de equipamentos próximos que podemos utilizar para a tarefa de montar e desmontar? uma calculadora velha, um relógio, uma bicleta, uma pipa, um motor... O que heim? Desmonte e monte ou vice-versa!

Veja algumas sugestões aqui: http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt4950.html
                                                         http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt4230.pdf
                                                         http://aurelio.net/doc/fvm/porta-fitas-k7-de-palito-sorvete.html

 

  • Você também não precisará necessariamente de um laboratório, poderá isso pode ser feito dentro de casa, no quarto, na sala, no quintal, na casa do amigo etc. Aliás, essa é uma das grandes sacadas da coisa, a metareciclagem não se limita a um tipo pré-determinado de espaço físico, acontece em todo lugar... onde no seu caso?

 

  • Mas não pense como sendo algo apenas para uma tarefa final de curso. É fundamental que você a relate para a comunidade. Este é o ponto crucial de nossa vivência e experimentação com MetaReciclagem. Tudo o que você tem feito, experimentado, criado, pensado só faz sentido dentro de uma lógica de rede. Opa, mas do que estamos falando?

Estamos falando que tudo isso o que se pode chamar de MetaReciclagem só tem sentido quando compartilhamos, quando colocamos nossas descobertas, nossas pesquisas, nossas fotos, nossas idéias numa rede onde outras pessoas podem ler, comentar, alterar, melhorar tudo aquilo que estamos produzindo ou apenas refletindo.
É essa rede o grande diferencial dessa forma de trabalho, dessa colaboração em torno de tantos pontos interessantes de conhecimento e desenvolvimento de novas tecnologias a partir de suas próprias necessidades, especificidades e compreensão. Para tanto, você pode criar a sua própria rede, ou então, melhor ainda, fazer parte de uma grande social, onde podemos trocar informações, nos conhecer melhor, obter suporte a respeito de tarefas que estamos trabalhando de pessoas que já passaram pelas mesmas dificuldades. Estamos falando de criar isso aqui:

Cada rede tem sua cara, por que estamos falando afinal de contas de uma verdadeira comunidade. Portanto, é essencial dentro a metodologia e da lógica de MetaReciclagem falarmos em rede, construirmos a rede e recriarmos a rede de acordo com nossas necessidades, modelos e objetivos.
Vale a pena lembrarmos aqui dos princípios que regem o mundo do software livre, ou seja, as quatro liberdades básicas. Vejamos:

  • A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade n.0)
  • A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade no 1).
  • Acesso ao código-fonte é um pré- requisito para esta liberdade. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade no 2).
  • A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade no 3).

A mesma coisa vale para MetaReciclagem, mas vejamos como adaptar isso ao que estamos fazendo aqui:

  • Você tem a liberdade de desenvolver qualquer projeto que a comunidade já tenha desenvolvido. A lista de discussão é um excelente local para você obter suporte e trocar algumas idéias a respeito de seus projetos;
  • Você tem a liberdade de estudar como cada projeto funciona e adaptá-lo conforme sua necessidade;
  • Você pode redistribuir as idéias e os projetos para auxiliar na sua comunidade;
  • Você pode aperfeiçoar um projeto e redistribuir para a comunidade, para que todos possam se beneficiar do que você fez!

Resumindo: lembra dos links de sugestões que foram dados acima? Você só teve acesso a eles porque alguém relatou suas experiências para a comunidade, exatamente como você irá fazer agora!
Uma boa forma de você começar é através da própria comunidade de MetaReciclagem:
http://www.metareciclagem.org

Boa sorte! Somente a prática e profundo exercício de se ver como parte de uma grande rede, conectado a centenas de pessoas vibrando no mesmo espírito, buscando o desenvolvimento de novas idéias, novas formas de pensar a tecnologia e de se relacionar através da tecnologia é que levarão a uma efetiva transformação de sua própria forma de ver o mundo.