TininhaLlanosParaoMutSaz
oitininha (hehe)
#mutsaz - Primeiro, quem é a Tinininha Llanos?
boa pergunta, se auto-descrever não é muito fácil. Não nasci Tininha Llanos, essa aí é uma mistura da tininha com o meu sobrenome pra dar uma seriedade na coisa. Posso dizer que desde pequena eu vivo no meio de artistas, minha mãe era atriz e depois passou a fazer figurinos, vivi entre cortes de tecidos, retalhos e música! Não tive dúvida quando tive de ir para a Universidade que estudaria algo no campo das Artes ( porque é uma ação que a sociedade quase te obriga né, ir pra universidae). Estudei muito anos na Escola de Belas Artes aqui na Bahia, onde moro. E lá que esse nome: Tininha Llanos surgiu. Virou um lance assim meio avatar, porque até eu adentrar no universo virtual eu não era Tininha Llanos. Ainda na Universidade fiz parte de um coletivo que causava muitas discussões entre os colegas e que era bem massacrado por levar com muita ironia a questão artistica. E começamos a fazer ações de intervenções em espaços públicos, ações poéticas, efêmeras e precisávamos registrá-las. Eu passei a fazer essa ponte no grupo, o registro seguido da publicação na internet. Era mais ou menos ano 2000, poucos amigos tinham internet por aqui. Tínhamos na universiade e na casa que eu morava também, entre todos os nove do coletivo, só eu tinha internet, aí eu precisava assinar, e aí virei a tal Tininha Llanos. Depois acabei sendo jubilada da universidade, e fui fazer outras coisas, como ser mãe, aprender a usar software livre, usar a web melhor. E viver entre coletivos, isso sempre me interessou. Mesmo com todos os conflitos e com todas as dificuldades que é essa coisa toda. Não é moleza. Agora estou estudando cinema (?) porque eu gosto do simulacro e da poética do audiovisual, gosto da cadeia produtiva , além de outros motivos que me fizeram voltar à univesidade. Saber quem é a tininha Llanos mais do que isso, só convivendo com ela.
#mutsaz - Um ponto legal para irmos engroçando o caldo dessa conversa eu acho que uma afirmação da Maira sobre as supostas coisas em comum que a gente (tininha e orlando) tem por estar numa mesma região. Eu não consigo ver esta "mesma região", mas acho que entendo o que a Maira quer dizer. Como você vê isso, regionalidades no Brasil? E como você vê que as diferentes pessoas vêem isto?
Acho que as dinâmicas regionais existem sim. Mas elas vão além dos limites geográficos, eu as considero ambientais. Existem mais abismos entre as pessoas do que coisas em comum. Se em uma casa sobra comida, e em outra falta existe aí uma relação em comum, falta em uma porque sobra na outra, mas entre ambas há o abismo que não permite a troca, pois essas casas estão ambientadas em suas regiões, esse ambiente não permite a simbiose. Por isso não considero proximidade como comunidade, pelo contrário. Consideramos comum o que habita nosso mesmo ambiente, e este pode estar próximo ou não, ser real ou não, e é mutável, existem comunidades que valorizam a proximidade geográfica, mas a sua maioria não. Acho os conceitos de bolo-bolo ou de TAZ os melhores para explicar sobre o que eu acho que é ambiente, a desconstrução de limites, de personas. Acho fantastico a psicogeografia.( sou filha de hippies e não tenho vergonha disso).
Precisaríamos ser nômades para descontruir os ambismos que as regiões causam, e nessa caso muitas pessoas deviam experimentar mais outros ambientes além do próprio.
Acho uma boa conhecer o outro e ir somando, pensamentos, idéias, críticas sobre si mesmo.
#mutsaz - O Glerm com o MSST começou uma série de entrevistas bem interessantes e as duas primeiras questões tem a ver com software livre e arte. Inspirado na movimentação dele eu queria saber um pouco como você vê, pensa, sente, vive esse lance arte&tecnologia? Quais históricos destas caminhadas você gosta de resgatar? Como é isso na sua relação familiar?
Acho que software livre não tem muito a ver com arte não. Ele tem a ver com política, e se eu disser que arte é política vou estar no mínimo sendo irônica. Existem alguns que usam o software livre em experimentações artísticas, mas produzir software livre não está ligado a necessidade humana da poética, da expressão pela expressão. Não digo que arte não é política e que software livre não é arte em algum momento, mas no todo não é. A relação entre arte e tecnologia ao meu ver é de dicotomia, é o velho conflito entre o racional e o irracional, o lado direito do cérebro e o esquerdo. Um pode se instaurar no outro, mas são caminhos paralelos. Acho que o cinema pra mim foi a melhor relação entre arte e tecnologia, lá com os irmão Lumiére, dois franceses loucos por grana que desenvolveram o mecanismo fotográfico para enriquecer, subestimando a criação artística que acabou sendo captada por outros e assim teve ambiente para todos. Mas como o caminho da arte e tecnologia é de se relacionar sem se cruzar, os percalços existem, daí os problemas que temos com essa linguagem, que precinde de tanta tecnologia quando de poética artística. Não é a toa que fui estudar cinema, mesmo sendo um dispositivo distante do meu ambiente, pois não tenho grana e não uso Machintosh, mas acredito na manifestação artística que ele possibilita, nas aproximações que a arte e a tecnologia aliadas podem suscitar.
Na minha família, tanto arte quanto tecnologia são objetos da prática diária, mas nem um nem outro, são mais valorizados.
#mutsaz - Essa tua percepção dos filhos de hippies, da questão da vergonha. Fala mais sobre isso?
Considero os hackers, geeks, nerds, os neo hippies, só que de certa forma eles tem preconceitos com a turminha da década de 70. Tenho um amigo que no início dos anos 2000 disse que estavam surgindo os ciberhippies e esse adjetivo acabou sendo referido à mim também posteriormente, quando eu comecei a usar a tecnologia em minhas ações. Acho que esse movimento hippie trouxe muita coisa boa para o mundo, mas ele não foi compreendido. Aliás, foi um movimento que foi cooptado e transformado em produto. E por isso tanto preconceito, quando uma ideia se massifica, os "intelectuais" passam a ter vergonha de alguma forma de fazer parte daquilo. Estou lendo um pouco sobre gandhi, ele foi a maior inspiração para o movimento hippie que surgia em um contexto de pós guerra no vietnã e de extrema violência militar em todo o mundo. Os adeptos do movimento passaram a caminhar pelo mundo, sem casa, com pouca grana, reutilizando os pertences pessoais e o que encontravam pelas ruas, compartilhando alimentos, descobrindo lugares onde pudessem recomeçar, considero que foram os principais descobridores dos paraísos que hoje fazem parte da especulação imobiliária do turismo. Acho que a década de 70 é uma divisora de águas para o ser humano. No Brasil, ser hippie era diferente da realidade americana, e foram até confundidos pelos "intelectuais" como pessoas "fora do contexto".
Minha mãe foi ativista do movimento contra-ditadura, viu parceiros morrerem, foi mal compreendida pela própria mãe, saiu do grande emprego que tinha para a zona rural, morou em comunidade, hoje ela tem uma historia incrível!
Fico pensando o que eu seria hoje se minha mãe tivesse outra realizade?
#mutsaz - Voltando à arte e tecnologia, tem toda aquela coisa do cinema e a técnica no Benjamin ( http://www.espacoacademico.com.br/066/66viana.htm) que parece ser um ponto por onde a discussão sempre passa. Como está isso na tua cabeça? E também quando você fala que arte e tecnologia não se cruzam, o que diria você sobre essa concepção de que a humanidade é essencialmente técnica, que a técnica funda o homem?
Acho que cinema é uma técnica, como a pintura e a fotografia, mas transformá-lo em arte, aí depende de uma série de fatores. Acho que pra uma coisa ser arte tem que haver descontrução, da realidade, por exemplo a escola soviética de cinema estava totalmente envolvida com a causa socialista, nem por isso deixou de desconstruir um pouco a fantasia da salvação proletária, basta assistir A greve que até os dias de hoje as são imagens pertuadores e questionadoras da realidade. Na minha cabeça é assim, a tecnica não fa a diferença, mas o uso que se faz dela.
#mutsaz - Encontrei com você num lugar muito bacana e num momento em que pude presenciar um profissionalismo impressionante na sua interação com os acontecimentos do local, ou seja, o Bailux Party. Lá você sempre com seu netbook gravando, conversando, articulando e desempenhando um papel central no encontro. Como é essa tua atividade nas questóes das redes como a MetaReciclagem, Submidialogia e dos coletivos como o Descentro? Como você vê teu papel? O que te dá tesão e como você olha pra frente?
Me vejo participante e acho que como uma canceriana ao extremo, por isso sou como as fases da lua. Naquele encontro fui conhecer o Régis, pois haveria um submidialogia lá em Arraial e fiquei pensando no impacto que poderia causar à TAZ Bailux e eu não conhecia o Régis!!!! Acabei sendo amenizadora de conflitos no caso lá dos funcionários do estado, e entre uma atividade e outra percebi que as relações presenciais são fantásticas. pode acreditar que a partir daquele dia perdi um pouco o tesão pelas listas...
Depois dali uma mudança muito grande aconteceu em mim relacionando-se ao contexto coletivo. A vivenciação do simulacro nas listas de e-mails, experienciando a relação de avatar-avatar, a curto prazo parece fantástico, mas são as vivências diárias que nos fazem construir algo concreto, inclusive emocional. Naquele encontro tive conversas inesquecíveis com o dpadua, com vc e com o bica... E foi ótimo conviver! Esse nosso mundo virtual é fantástico para descobrir, divulgar, compartilhar, mas não dá pra criar sentimento, isso mesmo precisa ser presencial. A partir disso tô pensando mesmo em me dedicar mais à uma TAZ sentimental!
#mutsaz - Ainda meio que relacionado à questão anterior, seria legal ter uma narrativa tua da inserção nessa movimentação MetaReciclagem, Submidialogia e Descentro. Como tudo começou para você? Tem fatos e situações que você gosta de relembrar ou que acha importante falar sobre nessa caminhada? Por fim o que é para você MetaReciclagem, Submidialogia, Descentro?
Tem momentos que considero importantíssimos a principal foi a mimosa: Fazer parte da construção da primeira mimosa em Cachoeira na BA, depois fazer a mimosa de Pipa no RN , a mimosa carrinho de café , no upgrade! em Salvador, foram momentos intensos de vivênvia, aprendizado e diversão! Sou muito feliz de ter conhecido o casal Ricardo Ruiz e Tati Wells. Pra mim aquela foi a melhor vivência em metareciclagem. O submidialogia acompanhou a minha maternidade e isso vai ser sempre inesquecível, em Olinda eu estive grávida e acabei testando piezos na bárriga com o glerm na tentativa de um eletroultrasons e tomando choquinho só com os gritos da galera, pois não me deixaram tomar o choque coletivo, em Lençóis Akin tinha 10 meses e participou de tudo.
O descentro, Vejo o descentro muito mais como uma forma de possibilitar que as coisas aconteçam, uma responsabilidade coletiva que tende a se desenvolver, crescer e dar seus próprios frutos. Pelo menos eu acredito ser assim. Tem pessoas que vêem ( ou viam ) o descentro como ativismo e outras como política pública, acho muito mais simples do que isso, vejo como ferramenta.
#mutsaz - Esse lance de entrevista assim (em dois tempos, várias perguntas de uma vez) é engraçado, porque não dá pra ir sentindo a pessoa e trabalhando questões de feedback imediato. Por isso, queria perguntar, você sente necessidade de falar? Você consegue resgatar coisas que te dão uma vontade muito forte de falar? Se sim, conta aí. Se não, conta também?
Sinto vontade de estar com as pessoas, só isso! Quem está jnto à mim sabe como gosto de falar! rsrsrsrsrs
#mutsaz - valeu tininha.
Um abraço, PAZ, luz e tudo de bom nas caminhadas!
Deixo aqui uma mensagem que considero importante para mundo
A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita Mahatma Ganghi
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