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sex, 03/12/2010 - 20:41

Testando um tablete - Smartq V7

Eu tenho uma curiosidade perene sobre informação e mobilidade (alguns posts sobre isso aqui). Me dá alguma preguiça e muita repulsa a ânsia da indústria (e da imprensa especializada, seu braço armado) pela obsolescência, pelo fetiche consumista e pelo aprisionamento de pessoas a plataformas. Por outro lado, sei que essas plataformas criam um monte de possibilidades que não são possíveis com o suporte de rede que a gente está mais habituado - computadores, etc. Daí que sempre estou de olho no que aparece por aí.

Quando participei do Labtolab, tive a oportunidade de conhecer Rodrigo Calvo, que estava bastante empolgado com o kernel do android. Eu ainda era um usuário razoavelmente satisfeito com a dureza quase estável do symbian, e tinha alguma curiosidade pelo maemo. Perguntei pro Rodrigo sobre essas duas plataformas, e ele me garantiu que o futuro é android, por conta da potencial disseminação em diversos aparelhos diferentes - dos mais caros aos mais baratos.

Essa opinião ficou flutuando à minha volta. Alguns meses depois, eu tive a oportunidade de brincar um pouco com um ipad. Achei o troço tremendamente limitado, preso a um software tosco e, segundo relatos, com um sistema de arquivos quase impossível de acessar. Mas tinha que dar o braço a torcer: o bicho sugere algumas experiências de uso que realmente não são possíveis com computadores nem com celulares. Confesso que estava reticente, até que meu amigo abriu um app pra ler quadrinhos, que me venceu. Eu tenho algumas coleções de comics guardadas há pelo menos três anos no meu computador, que nunca consegui me dedicar a ler.

Eu nunca teria um ipad, por conta das limitações e restrições autoritárias da plataforma. Em determinado momento, acessei por algum acaso um link para um desses apads - tablets chineses genéricos, rodando versões customizadas do android, a custo baixíssimo. Encontrei um de 95 dólares, e alguma coisa clicou ali. Talvez a relação simbólica com o OLPC, com essa conversa aqui ou sei lá o quê. Comecei a ler reviews e opiniões de quem tinha usado os aparelhos.

Acabei encontrando em um fórum a indicação para o Smartq V7, um tablet um pouco mais caro - 235 dólares, com a entrega - mas que tinha um android mais recente, além de também rodar uma versão customizada do Ubuntu e o windows CE. Aparentemente, a Smart Devices é uma daquelas empresas da China que tenta ir além do Shanzhai, desenvolvendo inovação própria. O V7 tem também uma porta USB, slot para cartão SD e saída HDMI. Parecia uma boa chance de finalmente testar mais a fundo o android - que eu só tinha visto rodando toscamente numa versão hackeada pro N800 - e de entender pra quê pode servir um tablet. Depois de pensar por alguns dias, acabei fazendo a encomenda.

Demorou quase dois meses pra chegar, mas veio. Direto em casa, sem fazer escala na receita federal ;). Comecei a fazer alguns testes com os sistemas disponíveis. Quase briquei o aparelho (ou seja, quase perdi totalmente o acesso ao sistema operacional dele). Em uma das versões do Ubuntu consegui rodar até o PD - com teste de áudio e tudo mais. No fim das contas, acabei ficando com versões customizadas do Ubuntu e do Android. Documentei tudo aqui.

Smartq V7

Desde então (quase um mês atrás) tenho usado bastante o V7, principalmente com o android. Ele ainda não é ideal: o aparelho é muito pesado para ler na cama antes de dormir (o risco de adormecer e machucar o nariz é grande), congela a cada dois ou três dias ao voltar do sleep, etc. É um aparelho barato, então tem aquelas coisas - o touchscreen é pouco responsivo, o alcance do wi-fi não é muito grande, não tem frescuras como acelerômetro ou GPS. Mas tem funcionado bem, para coisas que eu não uso o computador nem o celular, e acho que pelo preço está muito bem.

Talvez o uso mais diferente que eu tenho feito dele seja justamente para ler coisas - todos os meus PDFs guardados, comics, pedaços de livros novos usando o app kindle da amazon (que deixa até marcar texto!). Não que não seja possível acessar a internet, escrever coisas, interagir, etc. Ele funciona razoavelmente bem pra essas coisas - encontrei aplicativos interessantes para o google reader, para o readitlater, microblogs e afins. Outro uso interessante foi pra assistir vídeos no avião - muito prático, legal. O V7 é pequeno, cabe em qualquer bolsa pequena. Consigo me imaginar usando ele no ônibus ubatuba-sampa para acessar os vídeos que não assisti durante a semana. Ou para coletar dados usando o GPS bluetooth. Ou, como tem sido mais comum, para ler ebooks ou materiais de referência.

Ao contrário do OS do ipad, o android permite uma grande flexibilidade. Para funcionar o android market, por exemplo, eu precisava mudar um registro no sqlite. Foi só questão de abrir o terminal, ganhar root e modificar direto por lá.

O android tem vários problemas, mas mostra um potencial muito grande. Encontrei programas pra fazer um monte de coisas com ele. No fim (e por enquanto), O V7 é um aparelho bem versátil para uso leve e conectado. Tenho gostado da experiência. A possível expansão com HDMI e USB, além da portabilidade e da duração da bateria (mais de 10 horas com uma carga) me faz pensar que esse tipo de dispositivo é muito mais adequado do que qualquer laptop para usos educacionais (viu, galera do UCA?). O V7 é claramente um aparelho intermediário, que deve sumir do mercado daqui a pouco. Mas como protótipo avançado, é bem interessante. Ajuda a entender os movimentos que vêm por aí, talvez com o tal Samsung Galaxy Tab e assemelhados.

Publiquei aqui algumas fotos do V7.

PS: Hoje dei uma lida no post do André Lemos sobre Dispositivos de Leitura Eletrônicos. Ainda não testei nenhum aparelho com e-ink, mas acho que vou gostar.

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