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ter, 08/07/2014 - 16:43

Redes sociais livres ou alternativas?

Reposta na lista de e-mails labsurlab de aktivix.org, copiado para as listas de e-mails metareciclagem e comunicacaodebaixo de riseup.net, e por consequência disto, disponível em: http://permalink.gmane.org/gmane.politics.organizations.metareciclagem/62374.

Publicado no meu blog "Paradoxo Injusto" em http://azul.iuri.blog.br/resposta-a-fabi-borges/

 

Citando fabi borges <catadores@...>:
> Acho que o que quebra o n-1 é que não podem ganhar dinheiro com ele,

Apesar de eu ser um anti capitalista declarado, ladrão e profundo
desrespeitoso dos processos financeiros bem definidos, eu concordo com
as tuas afirmações (não esta citada) e reconheço que existe a
necessidade de "ganhar dinheiro".

Entretanto, eu vou discordar e refutar este argumento citado, Fabi.

Esta rede social não serve e não deve servir mesmo, pra ganhar dinheiro.

Os meus conceitos de comunicação e marketing são mutuamente exclusivos.

Boto fé e apoio, sim, todo e qualquer uso das redes de COMUNICAÇÃO
para discutir, propor, organizar e criar meios de ganhar dinheiro.

Repudio e deliberadamente boicoto todo e qualquer uso das redes de
COMUNICAÇÃO para monetizar, anarcocapitalizar, induzir, marketizar, etc.

Minha proposta de ação estratégica pontual? Crie grupos em redes
livres para organizar e discutir como será utilizado o feicebuqui pra
promover alguma coisa. Enxergue e trate como vítimas, potenciais
consumidores, parceiros de negócios, ou como queira chamar, as
'pessoas' do feicebuqui. Trate como seres humanos desprovidos de
relações intrínsecas com o dinheiro as pessoas das redes livres.

Para mim, organicidade tem níveis de maturidade.

Eu apoio e promovo o USO, no sentido de usar, aproveitar, sugar,
explorar, as redes sociais e ferramentas da internet que foram criadas
para isto. Para mim, "amigos" no feicebuqui são vítimas. São números.
É gado. A comunicação lá se dá de forma unilateral e eu sou o ditador
autoritário da informação. O feedback que eu recebo, para mim, são
sempre dados estatísticos, material de planejamento estratégico, e
nunca opiniões relevantes de seres humanos que merecem respeito.

Por outro lado enxergo listas de e-mail não comerciais, e redes
livres, como espaços de troca sinceros, despretensiosos, onde pessoas
têm a liberdade de se organizar. Ou seja, lugares onde a proposta de
"rede social" está satisfeita, é sincera, e não uma armadilha para
induzir pessoas a tornarem-se consumidores passivos como é o caso do
feicebuqui.

Eu particularmente não preciso de redes alternativas para vender bolos
veganos, suco de beterraba, camisetas de algodão orgânico pintadas com
tinta produzida em casa, artesanato e etc. Se eu estivesse ocupado com
isto, eu iria lá no sistema capitalista já estabelecido e iria
disputar espaço com a Walmart. Eu ia criar cooperativas e quebrar
todas as grandes empresas, porque eu tenho determinação.

Mas eu estou plenamente satisfeito com as pessoas tomando coca cola e
comendo no mc donalds. Eu não acho que eu sou melhor porque eu tomo
refrigerante Guzzo feito com água de poço artesanal, devolvo a garrafa
pro produtor e incentivo o consumo de bife de soja transgênica
plantada no interior do meu estado por matadores de kayngangs. A César
o que é de César.

Eu estou preocupado é com a liberdade das pessoas de se comunicarem.
Eu não estou satisfeito com a ideia de que duas ou mais pessoas não
podem tomar chimarrão na área, em um dos poucos momentos em que as
desgraças do mundo podem ser esquecidas e há CONVERSA real, e vem
alguém vender alguma coisa que ninguém ali quer ou precisa. Se alguém
tem que pensar em estratégias, táticas, coerção, indução, é porque
está errado.

Eu não estou satisfeito com a ideia de que eu não posso andar na rua
sem ser OBRIGADO a ficar lendo os outdoors, porque eles se confundem
com as placas de sinalização e meu cérebro não é tão avançado assim
pra selecionar o que eu vejo e o que meu subconsciente assimila. Eu
amenizo este problema trabalhando com artistas de rua e pixadores e
deixando as ruas por onde eu ando mais do jeito que eu gosto e menos
do jeito que os empresários gostam. Ultimamente eu tenho vencido mais
batalhas que eles.

Eu não estou satisfeito com a ideia de ser obrigado a receber uma
enxurrada de informação irrelevante "organizada especialmente para
mim" toda vez que eu tenho que ir lá no inferno azul e branco ver se
algum revolucionário anarquista de extrema esquerda me mandou um
chamado ultra secreto no feicebuqui, para um evento que vai mudar o
mundo. Se a administração do feicebuqui realmente tivesse acesso à
minha mente e soubesse exatamente o que eu quero, ao entrar no site eu
veria html simples e o conteúdo das mensagens xmpp organizados por
data, e NADA além disto.

Quando eu quero consumir e ser explorado feito um babaca ignorante que
eu sou, eu sento o rabo no sofá na frente da televisão, que nunca foi
um meio de comunicação, ou vou procurar um banco pra sentar com a
minha preta em algum shopping. Eu acho que maconheiros veganos
artesãos deveriam organizar seus shoppings alternativos em praças
públicas e lutar pela permanência nestes espaços, ou organizar
squattings e botar uma placa lá "sustentabilidade capitalista
alternativa", porque a lógica destas pessoas é exatamente igual à dos
empresários engravatados. A diferença, talvez, é o comprometimento
ideológico e o esforço em privilegiar certas coisas em detrimento dos
ganhos financeiros. Para mim, não há diferença significativa.

Para mim, ser "alternativo" não significa ser "independente" e
"livre". São conceitos distintos.

Eu não sei o que é que o pessoal da lorea entendia por "redes sociais
do povo para o povo", e pouco me importa. Eu aproveito o trabalho
(código do Elgg) para propor e implementar o que EU penso que são
expressões do conceito de liberdade, software livre e todo aquele
discurso que todxs nós fazíamos há alguns anos atrás. E a distinção
entre melhorar as condições da prisão e sair dela, para mim, é absoluta.

Eu estou em sintonia com esta frase que já deve ter uns 3 anos, ou
mais talvez: "Porque las herramientas del amo nunca desmontarán la
casa del amo". Considero esta frase uma elucidação de amadurecimento
político, e politicamente superior, politicamente evoluída.

Eu entendo que tu, Fabi, nunca ia ser capaz de construir a crítica que
tu fez, que eu considero pertinente, e assino embaixo, com a exceção
da frase pontual que estou refutando, se tu estivesse totalmente
inserida em um ambiente "insalubre".

Considero necessário sim, criar espaços para observar, no máximo
possível permitido pelas circunstâncias, "de fora" o processo, na
intenção de tomar decisões e propor ações da forma mais lúcida
possível. Eu tenho consciência plena que não tem como "sair da
matrix", e que ninguém vai estabelecer o controle social porque isto
simplesmente não faz sentido.

Mas eu consigo distinguir cada vez mais o que é aceitar passivamente,
e às vezes agir em comunhão de esforços de forma tolerante e
condescendente com aquilo que é conscientemente avaliado como
"errado", e o que é fazer alguma coisa, quase sempre "inútil" ou
"errada", aprendendo, corrigindo e se livrando aos poucos dos grilhões
que nos forjavam :P

Considero sim necessário garantir espaços "limpos" de influências
tendenciosas, máscaras de oxigênio virtuais, porque eu sou fraco e
sucumbo quando estou na guerra. Não posso me dar ao luxo de me isolar.
Porque as conexões, as parcerias, as relações que eu estabeleço no
meio da guerra não me fazem ser social. Me fazem, pelo contrário, cada
vez mais preso na minha bolha.

As redes sociais comerciais que aí estão, estão deixando a nossa gente
cada vez mais influenciada e cooptada pela cultura de massificação, e
para mim é inadmissível não fazer o máximo possível de movimento
contrário a isto. Cada vez é menos óbvia a falta de liberdade e já tem
gente que antes tinha lucidez e hoje já não percebe mais que está indo
para o buraco.

Eu mesmo já joguei no lixo a modéstia, porque estava servindo pra me
escravizar e escravizar outras pessoas, e declaro abertamente que sou
um dos poucos lúcidos por aqui. Não é para me promover ou para me
achar superior. É um pedido de socorro. Eu estou cada vez mais
cooptado, tolerante, condescendente, e aceitando absurdos com
naturalidade porque assim quer a sociedade.

Eu poderia estar somando mais contigo, com quem está lendo isto, eu
poderia usar toda a minha energia e a minha capacidade pra somar com
um monte de coisas boas que estão acontecendo no Brasil e no mundo,
mas estou perdendo o meu tempo e não é nem com o meu pão de cada dia.
Eu deixo de almoçar se for necessário e não há problema nenhum nisto.
Estou perdendo tempo com gente "fresca", como a gente diz aqui no Rio
Grande do Sul, e vaidosa, que não toma vergonha na cara. E é
necessário deixar explícito que não é o caso nem da Fabi nem de
ninguém da lista labsurlab, nem uma indireta. Estou falando mais
especificamente aqui de Porto Alegre do que qualquer outro lugar. Mas
se alguém pegar o chapéu, ótimo.

Imagino que todxs que ainda não foram tolhidxs na sua lucidez estejam
sofrendo de forma real, porque eu tenho aqui cama pra dormir, chuveiro
elétrico e quase sempre eu almoço, e conheço gente que não tem mais
nem tempo pra perder que nem eu, mas não quero transformar nenhum
espaço desses em divã onde todo mundo vai começar a chorar e falar dos
seus problemas. Eu frequento NA pra isto.

Quatro da tarde e eu vou pra rua atrás de almoço, depois eu volto pra
escrever mais código e texto.

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