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O projeto Mutirão da Gambiarra já vem sendo articulado há dois anos. Eu tinha a convicção de que um elemento que faltava, não só pra consolidar a rede MetaReciclagem, mas também pra gente conseguir entender o que estava fazendo, era uma ação editorial mais forte, no sentido de coletar material, organizá-lo e a partir daí partir pra outros níveis de compreensão. Outro elemento necessário à rede, que o Mutirão nunca quis dar conta diretamente, mas que pretendia influenciar de alguma forma, era que as pessoas em diferentes projetos de MetaReciclagem documentassem suas ações, ideias e articulações.

Desde o começo, a receptividade à ideia central do Mutirão foi boa. Todo mundo dizia que era necessário, que iam ajudar, que se dispunham a editar, coletar, produzir.

Papo. Algumas pessoas chegaram até a mandar material para a primeira edição do Mutirão, mas de ajuda efetiva na edição e estruturação, pouca coisa apareceu. Da documentação da prática, tirando a notável exceção do pessoal do Bailux e mais 2 ou 3, tudo continua mais ou menos. Na hora de articular projetos e apoios, todo mundo fala em MetaReciclagem, mas quando se trata de sentar e contar prxs outrxs o que rolou, o que estão pensando... nada.

A gente enrola muito e produz pouco. Mesmo pensando que pensar, agitar e escrever é produzir, ainda assim existe um puta potencial de produção, mas em grande parte do tempo o pessoal fica só ensaboando. Tenho certeza de que tem um elemento aí de não querer atrapalhar, uma certa insegurança em se apropriar da rede, em tomar essa coisa de espaço público que ninguém sabe quem é o dono (uma dica: espaço público é de todxs). A todo mundo que não escreve, não conta, não documenta por isso, peço sinceras desculpas, e gostaria que me contassem mais sobre isso, me dessem dicas de como podemos mudar. Até temos algumas pistas: a lista é excludente, porque condiciona as trocas a um tipo de linguagem, uma retórica que é muito específica, e com a qual nem todo mundo está acostumado. Um dos trampos do projeto da InfraLogica que está sendo desenvolvido agora mesmo é justamente abrir canais de publicação além da lista, que permitam que as pessoas usem diversas ferramentas para contar o que fazem.

Mas tem o outro lado: um bando de gente que não se posiciona pra não se comprometer, que não se engaja pra poder pular do barco quando necessário, ou pra poder colher vantagens sem ter que negociar ou dar satisfações a ninguém. Por assim dizer, só se assumem parte da MetaReciclagem em ambientes controlados. Pra essas pessoas, digo o seguinte: vocês não entenderam nada.

Uma rede só se constrói à base de trocas. Sem troca a rede não existe. Pode até existir a pose de rede, aquela encenação de dizer "eu colaborei aqui, olha meu nome lá". Mas troca é muito mais do que a mera publicação. Troca é afetação mútua, é compartilhamento de sensibilidades e, em algum ponto, flexibilização de opiniões. Convencer todo mundo de que eu estou certo não é troca, assim como ficar pescando na grande área, esperando ideias novas pra aplicar no meu quintalzinho também não é.

O mutirão vai ser transformado. Vai tentar virar uma coisa mais ativa, indo atrás das coisas. Vocês aí silenciosxs por qualquer dos motivos, se liguem: o mutirão vai aí buscar essas histórias que podem parecer de pouca importância, mas fazem muita falta pra todo mundo. Aguardem!

Nos vemos em Arraial, certo?