A gente cresce com o imaginário de Brasília invisível, terra de políticos e lugar de ternos. Era assim que eu imaginava, até conhecer a terra do Calango e perceber que existem muitas saias coloridas por lá.
Essa parte do cerrado carrega uma mutiplicidade cultural que traz congada, mamulengueiro, quilombolas, que com muita honra alimentam tradições seculares e cheias de força.
E foi nessa cidade que aconteceu a Desconferência Metarecicleira, que nasceu como “Encontrinho Informal METARECS@DF” e organicamente se tornou “Encontro na Terra da Calaganda/ Peregrinação dos Des_finados pelo Fim do Fim do Mundo”, no dia de finados, 02 de novembro de 2012.
Um encontro no centro do Brasil?
Os últimos dois encontros da Rede Metareciclagem aconteceram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Duas cidades que são consideradas grandes polos pela quantidade de capital que gira dentro delas. Entretanto, pessoas que estão do outro lado do Brasil não tem tanta facilidade de chegar até essas cidades e a ideia de encontros descentralizados, como o que aconteceu em Brasília, possibilita que mais econtros, desse jeito, possam acontecer e mais pessoas possam se encontrar em lugares diversos. Afinal de contas, a rede metareciclagem está alé dos desenhos de mapas ou conexões astrais.
E quem estava lá?
Pois é, metarecicleirx também é metarecicleirx sem saber, pois é esse sentimento surge do coração e e de uma série de-devires que só aparecem quando estamos abertos ao acaso. Tem gente que escolhe essa abertura como premissa, e essa é uma das coisas que mais achamos no cerne da Metareciclagem: o saber acelerar/desalecerar o passo na hora da novidade. O saber lidar com o imprevisto. O incorporar o erro e transformar em potência. O…
E entre todas aquelas 20 pessoas (número aproximado) deu para sentir a magia do encontro, a importância de reunir não só quem está na lista da Metareciclagem, não só quem nasceu ou mora em Brasília, mas também gente que está em outros estados, e em outras redes, e que pode pensar junto com os moradores da cidade algumas soluções a partir da mescla de experiências de gente com referências diferentes.
É o caso de Webert Oliveira, que apresentou no encontro fotos e relatos sobre um espaço abandonado no Parque da cidade e jogou a pergunta: “como podemos ocupar esse espaço?”
E de roda em roda o tema foi circulando, junto com as outras conversas que estavam rolando anteriormente, os particpantes do encontro começaram a imaginar soluções para a ocupação desse espaço, que possibilita o desenvolvimento de projetos relacionados a àgua, vídeo, dança, arte, tencnologia, pela sua relação com a natureza e com a cidade.
Senti um ar de um dia de Submidialogia, atuando nas camadas de um lugar desconhecido, tentando entender o que está acontecendo naquele espaço para pensar maneiras de fortalecer as ações.
Peraê, mas como foi a chegada em Brasilia?
Peguei o mesmo voo que Rafael Beznos, e encontramos no aeroporto de Brasilia Magnus Magno e Webert Oliveira. É divina a sensação de conhecer pessoalmente pessoas que você vê na lista, verdinho no jabber e até já te despertou vários sentimentos sem que você tenha olhado nos olhos dela.
Webert contou a importância daquele encontro acontecer em Brasília, a quantidade de nodos que estavam desconectados e precisavam uma situação como essa para estarem juntos.
Muitas vezes a gente acha que é necessário um motivo para encontrar as pessoas, mas a saudade não é tida como um motivo plausível. Acho que esse encontro vai despertar saudade em muita gente e saudade consumada é óleo da engrenagem da vida.
Domingo Imaginativo de Resoluções para o Mundo…
Redes federadas, construir nossa própria casa, plantar nossos alimentos, fazer nossa música e tomar banho de cachoeira. E assim passamos o domingo: eu, Fabiana Goa, Farid Abdelnour, Daniel Prado, Leonardo Barboza e Fred Vazquez. A agulha da conversa era a frase “vamos fazer um mundo mais do nosso jeito” , de Zumbi dos Palmares. A linha que ia costurando era o sonho de cada um de um mundo baseado na economia solidária, no amor e nas possibilidades de continuar juntos a caminhada. Inicialmente usar um computador e plantar uma semente são ações completamente desconectadas, mas quando começamos a tentar entender o processo de construção daquele computador, como os softwares são produzidos e quem pode ter acesso, também percebemos que com as sementes não é diferente: como serão plantadas? Como será o seu processo de crescimento? Com ou sem agrotóxicos? E quem poderá comer essas plantas? Essa reflexão surgiu em uma roda de pessoas muito diferentes, mas que tem como premissa fazer um mundo mais do nosso jeito… Salve Zumbi!
Segunda, Sol, Beco e papelão!
O feriado foi todo de chuva em Brasília, mas na segunda o sol deu as caras em Taguatinga. E foi para lá que fui! Encontrar Farid, que carinhosamente me apresentou o Mercado Sul, conhecido como Beco da Cultura.
Conheci Dona Nen, costureira que estava fazendo as camisetas para o Blender-Pro e toda riqueza que o beco agrega, pois envolve culturas outras, como um violeiro que faz viola caipira e um artista plástico chamado Virgilio Mota, que recria com saco de cimento e papelão. Com o material recriado ele produz cadeiras, mesas e outros objetos. O espaço se chama Tempo Eco Arte.
O mais bacana é que essa galera do Beco está fazendo uma séria de produções no Blender-Pro e mostra de forma concreta que é possível desenvolvermos jeitos de construção pautados pela economia solidária com base na união da comunidade. Uma costura daqui, outro faz a serigrafia ali, outra faz o orçamento ali..e assim, de um jeito gostoso que só, Dona Nen grita da casa vizinha: Farid, vem escolher o azul da camiseta! E lá vou eu junto e já participo da escolha, sem que Dona Nen peça minha identidade e referências anteriores para estar ali…ô jeito leve de fazer as coisas..
Para fechar a viagem, aprendi novos rituais de energização e ouvi um susurro no meu ouvido sobre a importância de estar atenta aos sinais, afinal “eles estão aí o tempo todo, na nossa frente”.
E Brasília, o que te diz?
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