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qui, 21/01/2016 - 00:47

Servindo arquivos com ipfs

breve tutorial sobre como servir arquivos com ipfs (InterPlanetary File System), protocolo que a meu ver tem potencial para substituir em um futuro próximo o http

de forma parcial e resumida, o ipfs é uma mistura de git com torrent, então vou assumir certa familiariedade com o uso de termina aqui...

o primeiro passo é instalar: https://ipfs.io/docs/install/

então, no terminal,  abre uma pasta de arquivos e digita:
 

ipfs init

ipfs daemon
 

basicamente isto prepara nossa pasta trabalhar com o ipfs e nos conecta a uma rede (editável) de peers confiáveis
 
depois, abre outro terminal (ou coloca este processo em background) aí na mesma pasta, utilize o comando abaixo para incuir todos arquivos que você quer compartilhar:
 
ipfs add -r .
 
este comando vai gerar um hash (identificador único) pra cada arquivo e um para pasta toda. se você passar este hash para outra pessoa, ela pode baixar os arquivos simplesmente com:
 
ipfs get [hash]
 
e automaticamente virar um seed daquele conteúdo, tornando possível distribuir sites de forma descentralizada. por enquanto, funciona apenas para sites estáticos, mas já há muita discussão de como trabalhar scripts e consultas à banco de dados em servidores por APIs, por exemplo...
 
seria possível acessar também via http aquele conteúdo:

ipfs.io/ipfs/[hash]

o IPNS é interessante e complementar, mas já é outro assunto. obviamente é possível compartilhar apenas um arquivo ao invés da pasta, bem como realizar outras coisa com o software, mas o intuito aqui é apenas divulgá-lo em pt-br (parece não ter sido notado ainda no Brasil) e incentivar mais pessoas a pesquisarem e se envolverem...

outro projeto interessante do mesmo desenvolvedor que irá sair em breve é o Filecoin

aqui tem um vídeo onde ele explica (em inglês) um pouco dos projetos

1245 leituras blog de adrianobf
dom, 11/08/2013 - 23:56

Infra-lógica: plataformas e pessoas

A partir do acúmulo de conversas e experiências de infra-estrutura lógica da Metarec e das reflexões compiladas pelo efefe da última reunião [http://rede.metareciclagem.org/blog/11-08-13/Infralogica-reuniao], vou buscar nessa postagem compilar algumas proposições, ideias e impressões minhas sobre o assunto.

Me parece que o mote inicial para o início dessa re-estruturação que conversamos é uma percepção das limitações de uma única grande lista de emails como principal canal de comunicação dos participantes da rede. Apesar de o site atual contar com diversos recursos (wiki, agregador, blogs, etc), observa-se que este é subutilizado pela maioria das pessoas, principalmente quando em comparação ao uso redes sociais proprietárias - e me incluo nesta auto-crítica.

Portanto, creio que o principal desafio dessa fase que pretendemos iniciar não encontra-se totalmente no âmbito das funcionalidades ou de implementação de novos sistemas. Trata-se antes de pensar como transformar coletivamente as relações com as ferramentas de comunicação da rede, pensando não só a "cultura de uso" de diferentes recursos (blogs, wikis, listas, etc), mas também a apropriação dos mesmos (manutenção, desenvolvimento, atualizações, etc) e ainda a comunicação não apenas endógena, ou seja, a construção de narrativas que consigam também dialogar com quem *não* conhece a rede.

Uma das ideias que estamos amadurecendo é a instalação do Lorea (Elgg + plugins) como um piloto de rede social capaz de capilarizar a comunicação da rede de um único grande grupo para um metagrupo e mais vários grupos menores de discussões/trabalhos, levando em consideração a possibilidade de integrar o debate no Lorea com listas de email. Caberia então uma reflexão sobre as sobreposições deste novo ambiente com os atuais (Drupal + lista).

Me parece que o sistema atual em Drupal é bastante satisfatório do ponto de vista das funcionalidades produção e agregação de conteúdos (via twitter, links, wiki, blogs, etc). Por outro lado, as funcionalidades mais voltadas para conversação encontram-se totalmente substituídas pelo contato através da lista de emails (principalmente por conta da rapidez da notificação de interações desta), processo que por sua vez possui suas vantagens e desvantagens, que as dinâmicas impulsionadas pelo MutGamb Fim do Mundo trouxeram à tona. Neste sentido, o Lorea pode ser uma plataforma web que dê conta desta necessidade interna de comunicação, enquanto uma reformulação da arquitetura de informação e layout do Drupal talvez pudesse ser complementar para a divulgação de conteúdos externamente. Tendo claro que esta fronteira entre "fora" e "dentro" não existe, mas também que pessoas com diferentes graus de envolvimento com a rede possuem demandas e necessidades específicas.


Por último, vale lembrar que estes anseios e necessidades possuem muito em comum com a busca por autonomia na comunicação que muitos outros grupos e redes realizam; por exemplo, outras sementes do Lorea (mas não só), como o Saravea, n-1\anillosur, JuntaDados, EstúdioLivre, Soylocoporti; Mocambos; etc. A criação de redes de fato federadas (não apenas no nível da autenticação de usuários) entre várias plataformas livres continua sendo um horizonte desejável.

Observando o esforço feito e as dificuldades de cada um destes coletivos realizarem plenamente suas propostas (seja por falta de recursos físicos, financeiros ou humanos), creio que um debate interessante para a Rede Metarec é pensarmos formas destes diversos grupos cooperarem entre si para manter suas infra-estruturas funcionando e dialogando, criando possibilidade de manutenção e sustentabilidade destas plataformas a longo prazo.

1876 leituras blog de adrianobf
dom, 11/08/2013 - 19:20

Infralógica - reunião

Dando sequência à conversa sobre a infraestrutura de comunicação da rede MetaReciclagem, nos reunimos na noite de quarta-feira passada no canal IRC #metareciclagem do freenode.org. Estivemos presentes e conversando efeefe, iuriguilherme, B3ZN05, deniszubieta, josenetomg, simba_, elenaralelex e adr___, acompanhados ainda de alguns usuários inativos e robôs.

A reunião serviu como um primeiro momento de contato e levantamento de caminhos para avançar. Falamos sobre o elgg/lorea, sobre a necessidade de desenvolver uma política de governança e sustentabilidade para uma eventual nova infralógica. Pensamos em configurar um piloto de rede lorea para a metareciclagem para experiências - contribuindo com o esforço de desenvolvimento da plataforma, mas também adaptando-a para algumas de nossas particularidades. Sugeriu-se investigarmos a possibilidade de criar um metagrupo que se comunique através dos outros, e falou-se sobre a necessidade de atenção especial a arquitetura de informação e experiência de uso, como fizemos com o site da metareciclagem em drupal (ver os anexos no fim da página aqui).

Até o momento, minha sugestão pessoal é que criemos uma instalação do lorea em algum subdomínio da metareciclagem.org, documentando extensivamente cada etapa do processo (documentação esta que será disponibilizada publicamente) e passemos a fazer testes em cima dela. Mas antes de começar, quero conversar mais e entender se esse é realmente o melhor caminho.

Log completo segue em anexo.

2356 leituras blog de felipefonseca
qua, 31/07/2013 - 23:55

Limpando as teias

O site da MetaReciclagem tem uma história. Seu formato atual é fruto de uma série de discussões que marcaram um episódio importante da vida da rede. Mas hoje ele parece um prédio abandonado: mostra aqui e ali traços de tempos passados. Existe ainda um ou outro habitante eventual. Mas está longe de cumprir a ambição que já teve, de refletir um pouco das dinâmicas da rede, atrair a documentação de ações e proporcionar a articulação de projetos.

A própria MetaReciclagem também mudou bastante nos últimos anos. O processo do fim do mundo foi bastante significativo. Na minha leitura, ele denotou o esgotamento da tentativa de criar uma só voz para a rede, de tentar encontrar uma coerência não só para as opiniões mas para o próprio sentimento de pertencimento, para as multiplicidades e as constantes mudanças desse boteco feito de vapor. Me parece significativo também que eu escreva este post no blog do mutgamb, e não na conectaz da infralógica. Sinto até alguma culpa, como se estivesse desistindo de algo. Mas sei que não estou sozinho (na verdade, estaria sozinho se insistisse no contrário). Tão culpado me senti, que mudei de ideia e resolvi publicar no site atual da rede mesmo.

Ainda assim, não acho que a MetaReciclagem tenha desaparecido. Eu continuo chamando muito do que faço de MetaReciclagem, e trocando com outras pessoas - e para mim isso já é sinal de existência da rede, ainda que bem menos estruturada do que já imaginei. As conversas, tenho certeza, continuam acontecendo. Só que estão espalhadas e fragmentadas. Na melhor das hipóteses, as pessoas estão documentando as ações em seus próprios blogs e wikis. Na pior, como todxs sabemos, estão usando as grandes redes sociais corporativas - onde não podem ter nenhuma certeza de que suas informações vão continuar disponíveis amanhã.

É por essas e outras que eu e Adriano Belisário estamos propondo, através do MutGamb, debater e planejar os caminhos futuros para uma infralógica da MetaReciclagem. Queremos descobrir se é viável reinserir a MetaReciclagem na busca de soluções autônomas e seguras para a comunicação entre grupos, para a documentação de ações e para a articulação de atividades colaborativas.

Colo abaixo um pequeno texto que rabisquei pensando nessas questões.

A ideia de uma infraestrutura autônoma que funcionaria como espaço de identidade e documentação para ações e projetos, além de promover o intercâmbio entre as diferentes iniciativas, sempre habitou o imaginário da rede MetaReciclagem. Ao longo da última década, fizemos um série de experiências nesse sentido. Foram pelo menos quatro gerações de servidores, e talvez uma dezena de combinações de serviços de rede, CMSs e websites. Esses serviços sempre funcionaram como espaços de memória e articulação, mas em todas suas encarnações faltavam muitas coisas.

Por volta de 2009, quando ganhamos o Prêmio de Mídia Livre, decidiu-se dividir a aplicação dos recursos em algumas áreas: o que veio a se tornar MutGamb como esforço de documentação no sentido de oferecer uma alternativa narrativa para a demanda de explicitação de algum tipo de limite (ainda que fluido) para a MetaReciclagem; o eixo MetaRecursos / MicroReciclagem que pretendia oferecer orientação para projetos em busca de recursos, além de promover um programa de microfinanciamento de ações de MetaReciclagem; e por fim a Infralógica, que configuraria uma série de ações para melhorar as ferramentas de comunicação da rede.

Desde meados de 2007, já havíamos trocado praticamente todos os sites que tínhamos simultaneamente antes (um site estático em HTML, um planet, uma instalação coletiva de wordpress-mu, um moodle, um scuttle, talvez outros) por um site em drupal (só mantivemos o scuttle, administrado até hoje pelo wille em um servidor separado). À época, muitas iniciativas de MetaReciclagem haviam se atomizado - criavam seus próprios blogs, mas não dialogavam entre si nem pela lista nem por outras ferramentas. A aposta no drupal estava naturalmente relacionada à familiaridade com o sistema que alguns de nós tínhamos. Mas era também uma tentativa de integrar grande parte das necessidades da rede em um sistema integrado e abrangente. É possível que tenha sido nessa época que tentamos criar um vocabulário comum (esporos, conectazes, infralógica, etc.). De certa forma, me parece que tudo isso foi uma busca por integração de ações que se denominavam MetaReciclagem, na sequência de uma perda de identidade depois que muitxs de nós havíamos trabalhado em grandes projetos de governo, oferecido oficinas, feito experiências diversas. Existia ali uma posição algo paradoxal: para reforçar a importância das ações espalhadas pelo Brasil, o site assumia uma grande centralização: o wiki foi jardinado (até certo ponto), as ferramentas todas tinham uma interface comum, a administração e manutenção do site ficaram na minha mão. Centralização para criar espaço comum, e possibilitar que as pontas se apropriassem dele. Foi uma aposta, que não sei dizer se estava certa.

Esse impulso inicial em busca de articulação e criação de base comum influenciaria grande parte do que tentaríamos fazer depois de receber o prêmio Mídia Livre. A partir de 2009, então, organizamos um grupo de trabalho que alcançou algumas coisas: saiu da aletta (servidor mantido pelo descentro) que então já mostrava sinais de exaustão, padronizou a instalação e atualizou a versão do drupal para uma mais recente; fez um estudo de recursos do site, interface e usos; otimizou uma série de detalhes; desenvolveu um frontend e telas; montou um theme do drupal. Havia um questionamento sobre a pertinência de continuarmos imaginando a lista como espaço privilegiado de interação, quando sabíamos que os emails condicionam as conversas a um determinado tipo de retórica e impostação que já ficavam ultrapassadas para a molecada que chega hoje na rede. Ficava claro também que a lista era também um espaço complicado para se pensar em arquivo, memória e busca. Fizemos um monte de reuniões via IRC, alguns encontros presenciais de trabalho, uma reunião no Bailux durante o Encontrão Transdimensional. Algumas pessoas trabalharam para implementar aquelas mudanças iniciais, e elas deram uma nova cara para o site.

Havia muitos outros planos, mas fomos atropelados por uma série de coisas. As duas mais difíceis foram o falecimento de dpadua no fim de 2009, e o desaparecimento de mais de um terço dos recursos do prêmio por dificuldades com a associação proponente. Essas duas situações imobilizaram tanto o eixo Infralógica quanto o MicroReciclagem. MutGamb encontrou caminhos, no ano seguinte ganhou a segunda edição do Prêmio e o resto todxs que leem isso já conhecem. Já a Infralógica perdeu aquele ímpeto inicial, e hoje nem seria adequado tentar retomar do ponto onde paramos. Além de toda a transformação no cenário, no papel das ferramentas colaborativas e nos recursos técnicos disponíveis, a própria MetaReciclagem passou por uma profunda virada do avesso, com todo o processo do MutGamb Fim do Mundo.

Me parece que hoje em dia não faz mais sentido almejar um vocabulário e uma infraestrutura focados na integração ou no reforço do comum. A MetaReciclagem ganhou tração como uma espécie de força pendular - as pessoas por vezes se aproximam, se identificam, organizam encontros e usam esse nome; e outras vezes se afastam, fragmentam - e isso é adequado às condições de hoje. Mas o site atual não reflete isso. A intenção deste projeto é propor e buscar caminhos mais apropriados (pessoas, recursos, tecnologia) para implementá-los.

Hoje, mais do que nunca (e ainda mais reforçado pela paranoia pós-Snowden), parece ser a hora de retomar a importância de ter uma infraestrutura autônoma, gerenciada coletivamente, que possibilite a diversidade e ofereça segurança e estabilidade para as pessoas e grupos fazerem suas próprias articulações e documentação. É importante buscar a possibilidade de hospedar o sistema em algum servidor (ou mais de um) no Brasil. É importante documentar as soluções técnicas, compartilhar o código, explicar as decisões conceituais, garantir a governança do sistema.

No caminho vamos descobrir se essa conversa toda é relevante para mais alguém. Se for, ótimo: vamos precisar de ajuda de todas as pessoas que tenham algo a contribuir. Senão, pelo contrário, também é bom saber: largamos a nau ao vento e seja o que o futuro quiser.

1870 leituras blog de felipefonseca
qui, 01/03/2012 - 02:15

Sobre metáforas bélicas e outras cositas más...

 

Nos últimos tempos tive a oportunidade de me encontrar com metarecs pessoalmente, numa dessas obras do acaso. Sem planejamento detalhado, roteiro de visitas ou critério objetivo na escolha de cada uma delas, a única bússola que tinha eram a vontade e o risco: estarei na cidade, quem daqui está disposto a bater um papo?; topa contar um pouco sobre sua relação com a Rede MetaReciclagem?; essa Rede tem mesmo gente em todo país?. Fui gravando as conversas no celular para transcrever aos poucos e em breve ter mais algum material bacaninha lá pro Mutirão da Gambiarra (esse nome é o antigo, eu sei, mas mutgamb não é o que mais gosto, pois é bem menos sonoro e expressivo). Outra hora contarei mais sobre esses encontros fortuitos, com a devida atenção que merecem. Por enquanto, apenas agradeço, de coração, a todo mundo que me recebeu com enorme gentileza.

O começo da conversa era sempre o mesmo – a curiosidade sobre o momento de chegada na rede. E à medida que cada um ia contando sua história, a todo instante pensava em como eu vim parar aqui. Como ainda não há tecnologia para gravar pensamentos, imagino que seja adequado compartilhar essa história à moda antiga: escrevendo-a. Afinal, as relações são feitas assim, na base da troca. E as amizades, que se constroem a partir da confiança, também partem desse princípio: se você me conta uma coisa, eu também posso te contar outra.

A primeira vez que ouvi falar da MetaReciclagem foi quando estive no Barcamp em 2007. Na época eu estava numa pós em arte, educação e tecnologia e passava muito tempo na web. Como o curso era pautado numa estrutura de ensino ainda conservadora (isto é, naquele velho paradigma de transmissão e recepção de informação, apesar do moodle e toda aquela dinâmica de fóruns que caracterizam os cursos via internet), curti a proposta do Barcamp, de um aprendizado meio no escuro. Até onde eu me lembro o evento não tinha nenhuma intencionalidade educativa, mas eu atribuí esse outro significado a ele porque expressa bem a essência do aprender - descobrir, experimentar, se abrir para ouvir e conhecer, compreender que o outro sabe tanto quanto eu, ainda que sejamos muito diferentes, e o “pior” (ou o mais difícil de aceitar): o outro sempre tem algo a nos ensinar, mesmo que a gente não queira ou perceba.

As inscrições já tinham sido encerradas, mas escrevi para o organizador André Avorio e apareci na Cásper Líbero no dia seguinte. Ao chegar e me deparar com os krafts espalhados, inscrição me pareceu uma frescura. Por que um evento que mais parece uma reunião de diretório acadêmico (na mesma hora me lembrei dos não tão velhos tempos de faculdade e suas tradições atemporais) precisaria de inscrição? Fui olhando os papéis nas portas e entrei numa das salas, com a conversa já em andamento. Me instalei num cantinho fora da grande roda, ouvindo e observando tudo com atenção. Entre outras coisas, passava de mão em mão aquele laptop verdinho que deveria estar com as crianças na escola. Naquele dia aprendi uma lição importante que só reconheceria muito tempo depois: o mundo da tecnologia tem dessas coisas – elas precisam estar envoltas em uma mistura de polêmica, ideologia e o glamour do novo para ressoarem importantes e significativas. Mesmo que nunca sejam materializadas, o simples fato de terem sido concebidas já é o bastante porque a energia que faz girar esse planeta é o barulho. O falecido Steve Jobs é um dos que personificou esse modus operandi (não gosto deste termo meio arrogante, mas não me ocorre outro agora) e foi tão eficaz que influencia até quem tem absoluta certeza de que está em outro mundo, bem mais “livre”...

Como eu não sou lá muito afeita à moda e, por várias vezes, ela me desperta indiferença, repulsa ou birra, olhei de longe o tal laptop verdinho com total desprezo, sem nenhuma vontade de colocar a mão e experimentar (minha porção aquariana já tinha me levado ao evento, mas tirou um cochilo nessa hora). Resolvi me concentrar na fala das pessoas, dentre as quais estava o efe (naquele dia, Felipe Fonseca) e seu alerta para a necessidade de desconstruir as metáforas bélicas que povoam o mundo (público-alvo com pessoas a serem atingidas eram algumas delas). Ao longo do seu discurso, confesso que me distraí um pouco, dada a eloquência que me confundia: como alguém que se expressa de modo leonino poderia ter uma visão analítica tão aguda e crítica do mundo, já que essa é uma característica tipicamente virginiana? Pralém da obviedade do fato de humanos serem bichos, cujo instinto permite reconhecer rapidamente os seus iguais da subespécie astrológica, eu também trabalho com educação, muitos eventos, palestras e “quetais”. Nessa década e meia de atuação na área venho treinando a perspicácia de relacionar o que leio e ouço com o que vejo acontecer na prática. Como diz uma colega advogada, “no contrato eu posso colocar o que você quiser porque o papel aceita tudo” e aí eu sempre me pergunto: o que realmente estamos dispostos a bancar nesse universo de possibilidades? Em suma, a questão é o limite entre teoria e prática, o que se faz e o que se diz, o que se imagina e o que se realiza, o que se quer ser e o que se é.

Terminei, então, de ouvir as falas de cada um e ali fiquei até que a roda da desconferência terminasse. O fato de estar em eventos com frequência tem o “desprivilégio” de você não se deixar levar imeditatamente por qualquer ideia bacaninha que parece interessante. É preciso um algo mais pra eu poder me encantar, pois o que não falta é gente com boas ideias e ótimas intenções pro mundo melhorar. Aliás, nunca vi ninguém que não achasse que aquilo que faz é para transformar esse lugar onde a gente vive. O Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra, mas também foi ele quem disse que os medíocres são fundamentais. E, nós, pobre mortais nesse mundão de meu deus, ficamos com a difícil tarefa de discernir. Como a roda logo se desfez, não tinha muito tempo para devaneios e decidi que, de tudo o que acabara de ouvir, a MetaReciclagem merecia o meu benefício da dúvida.

Abrindo vários parênteses agora... outra coisa que considero muito importante (não só no trabalho, nos estudos, nas relações, mas na vida) é o quanto uma pessoa, ideia ou vontade têm de verdade em si. Não que eu espere encontrar A verdade (não acredito que haja apenas uma) ou saber se as pessoas estão falando A verdade (porque elas sempre acham que estão, ainda que seja uma verdade temporariamente necessária até que se possa dizer ou se encontre outra melhor e mais verdadeira), mas é uma questão de princípios (em tempo: princípio é também sinônimo de começo, ou seja, de onde se parte). Até hoje só encontrei um jeito de empreender essa busca: conversar com as pessoas ao vivo, escutando, olhando no olho, frente a frente. Por isso, fui lá e perguntei pro efe algo do tipo: como faço para saber mais? Ele me respondeu: entra no site da MetaReciclagem e me falou o endereço. Percebi que naquela hora não seria necessário prolongar a conversa. A verdade do discurso da roda já tinha se traduzido ali e duas frases foram suficientes para entender que efe acreditava mesmo no que dizia, sem intuito de convencer o interlocutor a qualquer custo, e não era da boca para fora. Então o agradeci, voltei pra casa e fui consultar o tal site.

Achei tudo muito confuso, difícil de localizar as informações relevantes e alguns arquivos que queria ver não abriram. Mandei um e-mail para o efe e ele sugeriu que eu fosse no Espaço Gafanhoto no dia seguinte para conversarmos melhor. Uma dessas interpéries da vida impediu que eu aparecesse e quase um ano e meio depois, com as urgências melhor administradas, as conversas por e-mail voltaram a acontecer e efe recomendou que eu me cadastrasse na lista de discussão da Rede MetaReciclagem.

Logo no início achei que poderia colaborar com algo que pudesse melhorar o site. Imaginava que nem todas as pessoas teriam a mesma paciência que eu, de querer aprofundar a pesquisa e as relações com a Rede antes de concluir à primeira vista que MetaReciclagem pode ser uma mentira. Uma parte é mesmo. Mas uma coisa é ser a mentira divertida, leve, despretensiosa e quântica, a ontologia da ficção. Outra coisa, bem diferente, é ser uma mentira ética. Talvez por conta daquelas preocupações com a(s) verdade(s), é que considero isso uma coisa bem grave. Mesmo pra mim, que venho do campo das artes e dou enorme valor às questões estéticas, admito que as éticas são prioritárias porque são elas que deveriam regular a vida social. O que eu ainda não descobri é como chegar nelas se, bem antes, as questões morais, as regras e os tabus ganham enormes proporções, eclipsando o que realmente importa.

Mais difícil ainda é fazer essa operação na lista de discussão desta Rede. Quase todo mundo que fala é tão convicto de sua disposição para abertura e defesa da liberdade, parece ter tanta certeza de que é imune aos tabus tradicionais, que, diante de tantas regras e moralismos disfarçados neste ambiente, eu não sei mais onde está o espaço para as novas ideias. A simples possibilidade da Rede MetaReciclagem ser julgada da mesma forma (por diversas vezes imprudente) que faz com tudo aquilo que está longe dela (sejam as pessoas, instituições, governos, partidos, empresas, iniciativas informais, outras redes, etc.) é algo que sempre me leva a pensar melhor antes de adotar determinados pontos de vista. O cuidado se repete quando vejo os mesmos julgamentos instantâneos serem dispensados aos próprios integrantes da Rede que se atrevem a compartilhar suas boas ideias e intenções na lista de discussão. As opiniões frequentemente desencorajantes surgem como se fossem disparadas por um gatilho, na velocidade de fuzis. Em pouco tempo se instaura uma batalha cujo objetivo parece ser eleger um vencedor para a discussão. Encontrar argumentos para comprovar aquilo que já se sabe e acredita parece valer muito mais do que debater ideias e ter disposição para mudá-las, inclusive as suas próprias. Daí a trédi morre do mesmo jeito que nasceu: condenada a priori. Nunca viveu, portanto. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que há muitos juízes na lista, quase ninguém parece acreditar no popular princípio básico da justiça: todo mundo é inocente até que se prove o contrário.

Dia desses foi um daqueles em que eu gostaria de ter sido mais eficiente na minha proposta inicial de melhorar o site para poder me descadastrar da lista de discussão sem a sensação de estar abandonando a Rede ou desistindo de fazer algo por ela. Mas a cada vez que vejo alguém ser lembrado de que a porta da rua está logo ali ou sair sem que outras pessoas sequer lamentem, me pergunto o que significa realmente aquela história de “tecnologia é mato, o importante são as pessoas” (que foi dita pelo dpadua e um monte de gente adota como assinatura). Se meu lado nômade é capaz de compreender que ir e vir é algo natural na vida e é também um direito-desejo fundamental, por outro, tenho a impressão que ninguém tem a menor importância para esta Rede. É uma espécie de “tanto faz”, que soa como soberba, pois na entrelinha está o fato dela continuar existindo porque suas crenças e premissas são maiores do que a possibilidade de se deixar afetar radicalmente por quem passa. Em outras palavras, a força do coletivo se sobrepõe à do indivíduo da mesma forma que em outros agrupamentos sociais bem convencionais (a gente, um aglomerado de pessoas físicas, é tão diferente assim de um partido político ou instituição e tem discurso próprio?). Eu não sou uma estudiosa de teorias das redes, mas alguém mais entendido poderia me ajudar a compreender se é tudo isso mesmo que dizem por aí. Sem jargão acadêmico ou falas prolixas em forma de redemoinhos que só levam a elas mesmas e ao próprio autor, de forma simples, para qualquer desavisado que cair aqui na leitura desse post poder sacar algo, por favor.

Ajudar a ganhar o Mídia Livre não foi suficiente para que o site virasse outra coisa talvez porque o que precisamos é mexer nos modos de se relacionar da rede metarecicleira. Desconfio que ainda não temos tecnologia para isso e suponho que as demais tecnologias que utilizamos e criamos abalam muito pouco essa dinâmica. Acreditava que investir na pluralidade de histórias metarecicleiras por meio do mutirão poderia ser algo revelador e muito interessante, o que, de fato, tem sido. Insuficiente, porém, para gerar movimento e interferir de forma significativa neste grande ecossistema em que me envolvi de forma absolutamente voluntária. Por minha conta e risco desde o início, eu sempre soube. Ninguém precisa me lembrar que posso sair a qualquer hora porque não esqueço. Não sou do tipo que diz “eu te amo” rapidinho e para qualquer um. Até topo dizer “abraços do bando” de vez em quando. Mas o “pode ir que eu nem ligo” já é demais, ofensivo, na minha perspectiva feminina da vida.

Assim que entrei na lista de discussão, também me cadastrei no antigo site do mutirão, aquele com logo preto e rabiscos. Neste mesmo período de iniciação, efe me transformou em editora, ainda que eu não soubesse bem o que isso significava. Sigo interessada nas narrativas metarecs e com energia para sair por aí coletando histórias de quem quer que seja. Minha única exigência é que seja ao vivo porque eu não quero nenhuma tela atrapalhando a visão. Eu não sei bem o motivo, mas olhando no olho e de frente, as pessoas se transformam em gentes gentis. Toda aquela aura pesada da lista de discussão se liquefaz e em nada parecemos com ogros, sem sensibilidade e delicadeza, tal como nos apresentamos ali, talvez por pura força do hábito ou receio da não-aceitação. Reclamar das reclamações alheias não me agrada, ao contrário, só irrita a mim mesma e aos outros. Permanecer em silêncio é, até certo ponto, consentir. Deve haver um caminho em que seja possível usar muito bem o direito à expressão, que já nos foi negado em história recente desse país, sem precisar gritar, banalizar o poder da palavra ou a necessidade contemporânea de emitir opinião definitiva sobre toda e qualquer coisa, inclusive sobre as que conhecemos bem pouco. Eu não sei bem para que serve a nostalgia, mas se eu pudesse voltar ao começo, preservaria minha disponibilidade de observação e escuta que me trouxe a essa Rede e também a emprestaria para quem quisesse usá-la de quando em vez. Se eu puder fazer um pedido para seu futuro, que seja a substituição da predisposição ao combate que vive em cada um de nós para fazer acordar o desejo pelo debate.

Há promessas de um encontro em Ubatuba daqui a poucos meses. Perto dos dez anos do Projeto Metáfora, que deu origem à esta Rede, para quem não sabe. Logo nos meus primeiros meses de vida nela, participei de um installfest lá no Parque da Juventude, depois veio o encontrão na campus party e outro lá no bailux, além de muitos outros que me permitiram encontrar muitas verdades e pessoas bacanas. Tenho certeza de que se não fossem eles, jamais teria permanecido. Certamente teria desistido toda vez que li algo absurdo ou pouco generoso na lista de discussão. Nessas horas sempre penso que o mundo pode acabar naquele átimo e futuramente um arqueólogo vai localizar fósseis digitais, concluindo que sou exatamente aquilo por ser membro do mesmo grupo. Mas como eu sei que o contato via internet será inevitável, queria fazer um segundo pedido como presente de aniversário para esta Rede: que a gente consiga romper não só com as metáforas, mas também com as atitudes e impulsos bélicos.

E como em todo conto de fada temos direito a três pedidos, por enquanto vou guardar o terceiro. Nessa jornada de transformar o mundo a gente pode precisar dele num momento decisivo. Por ora, sem ajuda dos deuses ou qualquer truque de magia, vamos usar nossa própria energia e, ao menos, nos esforçar para sermos alguéns melhores...  

2558 leituras blog de tatirprado
sab, 10/09/2011 - 01:53

CKEditor

Há algumas horas fui atualizar a página da Agenda da MetaReciclagem e incorri de novo em um bug que já tinha enfrentado há algum tempo - a página simplesmente não registrava nenhuma das alterações que eu fazia. Decidi fazer o mesmo que em outro site há algumas semanas: larguei o FCKeditor e instalei seu sucessor, o CKEditor. A instalação foi tranquila, seguindo o README: instalar o módulo, o editor e o ckfinder para upload de arquivos. Além de ter menos bugs e um visual mais bonitinho, o CKEditor tem recursos interessantes como a visualização em tela cheia.

2852 leituras blog de felipefonseca
dom, 31/07/2011 - 20:58

Outros 500

O site da MetaReciclagem passou o domingo fora do ar. Acusava "erro 500 - erro interno do servidor". Entrei no servidor e constatei que não tinha mais espaço em disco. Fui direto no diretório /var/log, que estava com mais de 3Gb. O maior culpado era o log de acesso do lighttpd: tinha dois arquivos com mais de 1Gb cada. Fiz uma limpa no servidor, tirei algumas coisas antigas e os arquivos de log arquivados (sim, o logrotate está funcionando, mas com arquivos mais de 1Gb não tem muito que se possa fazer, tem?).

Aproveitei que estava logado por lá e atualizei a versão do drupal 6 para a mais recente - 6.22.

2043 leituras blog de felipefonseca
qui, 17/03/2011 - 17:49

UID

Há alguns meses já estávamos com problemas em alguns posts do site da MetaReciclagem: apareciam de repente sem estar associados a nenhumx autorx, e isso atrapalhava o acesso e a edição do conteúdo. Não consegui descobrir a causa do problema (que afeta, em verdade, uma proporção ínfima do site - duas páginas em um universo de mais de 2000), mas hoje aprendi a consertar, com ajuda do Wundo. Lá vai:

Entrar no mysql

#mysql -u usuario -p

Selecionar o banco de dados

mysql> use bancodedados;

Verificar se o problema é mesmo o id de usuárix

mysql> SELECT uid from node where nid=XXX;

(onde XXX deve ser substituído pelo ID do node em questão)

O resultado aqui foi:

 

+-----+

| uid |

+-----+

|   0 | 

+-----+

Ou seja, o node está associado ao usuário 0, que não existe. Então vou associá-lo ao usuário 1 (que é o superusuário do drupal) e posteriormente posso atribuir a quem eu quiser através da interface web:
 
mysql> UPDATE node SET uid = 1 WHERE nid = XXX;
 
E pronto, os nodes voltaram a ser associados a usuários do site: EventosEtc e APH-no-Recife.
Atualizando: apesar de ter resolvido por aqui, o problema continuou em uma página do site do MutGamb. Essa discussão me leva a crer que o módulo vertical tabs pode ser o culpado, então vou temporariamente desativá-lo.
Atualizando outra vez: desativei o vertical tabs no mutgamb. O erro continua ocorrendo...
2054 leituras blog de felipefonseca
qui, 24/02/2011 - 09:04

Atualização

Fiz a atualização de segurança de dois módulos do site da MetaReciclagem. Se aparecer algum problema, avisem.

1780 leituras blog de felipefonseca
qua, 26/01/2011 - 23:49

Módulos, módulos...

Atulizei há pouco os módulos gmaps_addon, google_analytics e panels do site da MetaReciclagem. O panels está com uma versão nova disponível. Nos próximos dias vou ver se vale a pena atualizar.

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